Lechosław Baran
Eufemismo na imprensa – estrutura e
funcionamento
Lublin Studies in Modern Languages and Literature 32, 128-147
2008
LITERATURE 32, 2008, h t t p://w w w .l s m l l .u m c s .l u b l i n . p l
Lechosław Baran
Eufemismo na imprensa -
estrutura e funcionamento
1. I n tro d u ç ã o N u m a é p o c a d e m e d ia tiz a ç ã o d a v id a p ú b lic a e d o m ín io d o s m e io s de in f o rm a ç ã o n ã o s ó a o m n ip r e s e n ç a d a in f o r m a ç ã o d iv u lg a d a , m a s s o b r e tu d o o m o d o d e a p r e s e n ta ç ã o d a s n o v id a d e s tr a n s m itid a s p a r e c e m d e s e m p e n h a r u m p a p e l c ru c ia l. N e s te c o n te x to a im p r e n s a in f lu e n c ia e f o rm a a o p in iã o p ú b lic a c o m o fo n te d a s in fo rm a ç õ e s . D e d ic a m o s e s te tr a b a lh o à s c o n s id e r a ç õ e s d a e s tr u tu ra e ao f u n c io n a m e n to d o s e u f e m is m o s n a im p r e n s a n o v a s to c o n te x to d a s r e a c ç õ e s q u e p o d e d e s p e rta r. O e u f e m is m o c o n s is te n a s u b s titu iç ã o d e u m a d e s ig n a ç ã o n e g a tiv a p o r u m a m e n o s d ir e c ta e m e n o s n e g a tiv a , p e r m itin d o d e s te m o d o fa la r s o b r e a s s u n to s d ir e c ta m e n te in o m in á v e is . D e s t a p e r s p e c tiv a o e u f e m is m o é s e m a n tic a m e n te v a s to te n d o e m p a r a le lo a s d e s ig n a ç õ e s d ir e c ta s . A s s im p e r c e b id o b a s e ia - s e n a s a lv a g u a r d a d a f a c e d o s in te r lo c u to r e s e e x ig e a c o o p e r a ç ã o d e a m b o s o s f a la n te s n o d is c u rs o . D a n o s s a p r ó p ria e x p e r iê n c ia s a b e m o s q u e n e m s e m p r e o e u f e m is m o é tã o e v id e n te m e n te d e s e já v e l o u a c e ite . A s s o c ie d a d e s c o n te m p o r â n e a s n e c e s s ita m u m a c e s s o d ir e c to a o s f a c to s e o flu x o d a s in f o r m a ç õ e s v e r if ic a d o . Q u a lq u e r m e io q u e m o d if iq u e d e a lg u m a f o rm a a re a lid a d e s e rá d e im e d ia to r e c u s a d o e c r itic a d o p o r f u g a àEufemismo na imprensa - estrutura e funcionamento
129 v e r d a d e . C a d a c a s o e m q u e n ã o s e h a r m o n iz e c o m a d e s e ja d a im p a r c ia lid a d e d a in f o rm a ç ã o p ú b lic a o e u f e m is m o v a i s o f r e r d e u m g r a v e p r o b le m a d e im a g e m . N e s t a p e s q u is a , p r o c u r a m o s p e r c e b e r a d iv e rs id a d e d e r e a c ç õ e s f a c e a o e u fe m is m o v is t a s p e la s s u a s f u n ç õ e s e m o tiv a ç õ e s . C o m o c e r ta e s tr a té g ia p o d e c o n d ic io n a r a s f o rm a s d e p o d e r p e lo d is c u rs o . C o n f r o n ta r e m o s o s e u f e m is m o s a q u i a n a lis a d o s a tr a v é s d e d o is c a s o s d e e u fe m is m o d if e r e n te s . T o m a n d o e m c o n ta a d im e n s ã o s e m â n tic a in d is s o c iá v e l c o m a s u a d im e n s ã o p r a g m á tic a v a m o s a p r e s e n ta r o te m a a tr a v é s d a in te g r a ç ã o c o n c e p tu a l e o s e u d e s e n v o lv im e n to n o â m b ito d a s r e d e s d e e s p a ç o s m e n ta is . S e a c o n s tr u ç ã o s e m â n tic a te m u m p a p e l c r u c ia l p a r a f u n c io n a m e n to d e e u f e m is m o f a lta a p r e s e n ta r a q u e s tã o d o s e u r e s u lta d o p r a g m á tic o .N o n o s s o c a s o o s jo r n a i s s e rv e m c o m o b a s e p a r a o s e s tu d o s s o b r e o c o n c e ito d o e u fe m is m o n a im p r e n s a . A o a p r e s e n ta r to d a a c o m p le x id a d e d a e s tr u tu r a d o e u f e m is m o , v a m o s c o n c e n tr a r a n o s s a a te n ç ã o n a v is ã o g lo b a l d a p e r c e p ç ã o d e e u f e m is m o . A tr a v é s d e v á r io s e x e m p lo s v a m o s a p r e s e n ta r o c a r á c te r do u s o d e e u f e m is m o s n o c o n te x to p ú b lic o . E s s a v is ã o p r a g m á tic a e n c o n tr a m o s s e m p r e n a r e la ç ã o in te r lo c u tó r ia . A o d a r- n o s c o n ta d a s u a d im e n s ã o s e m â n tic a s o m o s c a p a z d e a n a lis a r e u fe m is m o ta m b é m n o v a s to â m b ito s ó c io - c u ltu ra l. 2 . A c a r a c te r ís tic a d o e u f e m is m o O s m a s s - m e d ia d e s e m p e n h a m u m p a p e l e s s e n c ia l n o f u n c io n a m e n to e n a d iv u lg a ç ã o d a s in f o r m a ç õ e s e id e ia s p r o p a g a d a s n a s s o c ie d a d e s c o n te m p o r â n e a s . O m a io r tr a ç o d is tin tiv o q u e s e p o d e o b s e rv a r n o c a s o d a s m é d ia s a c tu a is é o s e u c a r á c te r o m n ip r e s e n te e o p o d e r d a c ria ç ã o d e o p in iõ e s . O s m a s s - m é d ia n ã o s ã o s ó u m m e io q u e s e rv e p a r a tr a n s m is s ã o , a s in f o rm a ç õ e s in flu e m e f o rm a m a s a titu d e s s o c ia is . C .W . M ills e s c r e v e q u e o s m a s s - m e d ia e x is te m n a n o s s a r e a lid a d e p a r tic ip a n d o n a n o s s a v id a (M ills 1 9 8 8 : 4 1 2 ). P ro p õ e m o s n o v o s p a d r õ e s d e c o m p o rta m e n to , o n o v o e s tilo d a v id a , n o v a s im a g e n s e a s p ir a ç õ e s q u e q u e r ía m o s a d m itir. A c o m u n ic a ç ã o d e m a s s a s é u m tip o
da actividade livre. A participação nesta comunicação tem o carácter
facultativo. Por outro lado a sociedade contemporânea necessita de
muita informação, as pessoas mantém um contacto permanente com
os mass-media, o fluxo de informação actual. Os que perdem o
contacto com as informações têm de dar-se conta das potenciais
consequências do seu passo.
Ao começar as considerações dedicadas ao eufemismo deveríamos
primeiro tentar precisar o conceito. Determinar o que e que é o
eufemismo dos nossos dias, que função tem e que risco leva a
indiferença ou inconsciência da sua existência.
Na maioria dos casos o conceito de eufemismo é percebido como
estratégia considerada como obstrutiva do acesso directo à verdade.
Sempre que na vida pública aparecem assuntos susceptíveis ocorre
também o eufemismo. Em termos bastante gerais podemos então,
caracterizar o conceito como uma palavra ou expressão com a qual se
designa de forma alternativa uma realidade negativamente marcada,
para qual existe uma designação directa.
Os dicionários propõem várias definições, mostrando a questão
desde vários pontos de vista. Não se pode encontrar uma única, e uma
coerente definição do conceito para que contenha tudo e no mesmo
momento não correr o risco de se tornar impraticável.
A oferta de definições é muito generosa. Entre enciclopédias,
manuais de retórica e sobre tudo dicionários de linguística a noção de
eufemismo esta relacionada com as suas funções estilísticas. Temos de
dar-nos conta do facto que no início o uso das palavras do modo
indirecto estava relacionado sobretudo com o aspecto cultural. Trata
se do limite que marca uma fronteira entre o bom gosto e o mau gosto
e as influências dessa atitude.
Analisando a origem da palavra eufemismo encontramos que a
palavra de origem grega [Euphemismós] usava-se para amansar os
Deuses. Outros destacam que o eufemismo era usado em vez de
palavras ofensivas.
Eufemismo então é utilizado como certa alternativa para o uso da
expressão diferente, para evitar a possível perda da cara pelo emissor,
Eufemismo na imprensa - estrutura e funcionamento
131 a u d iê n c ia , o u o u tr a p a r te .1 O d ic io n á r io M a c h a d o a p r e s e n ta o c o n c e ito s ó e m u m a fra se :Eufemismo, s. Do fr. eufemisme, este do gr. euphemismós, «emprego de palavra favorável em vez de outra de mau agoiro», pelo lat. tardio euphemismus (em vez de euphemía, mais vulgar), e, depois, pelo fr. euphémisme. Em 1873, D.V (Machado 1977: vol. II, p. 503, 1a coluna)
S e g u n d o a E n c y c lo p e d y o f L a n g u a g e a n d L in g u is tic s , o c o n c e ito d e e u f e m is m o n a s u a e s s ê n c ia
consiste na substituição de uma designação negativa, que nomeia directamente um estado de coisas igualmente marcado, por uma designação menos directa e, portanto, menos negativa, permitindo deste modo falar sobre assuntos unanimemente inominaveis. (Referenda 1991: 1181).
S e g u n d o K . A lla n e B u rr id g e e u fe m is m o é n a d a m a is q u e u m a “e x p r e s s ã o f a v o r á v e l o u s u a v iz a d a , u s a d a e m lu g a r d e te rm o á s p e r o o u d e s a g r a d á v e l” .2 E u f e m is m o e n tã o , p o d e s e r c o n s id e r a d o c o m o :
espécie de perífrase, pela qual expressamos as ideias desagradáveis, tristes ou desonestas por meio de palavras brandas e suaves. (Silva 1990: vol. II p.517, 2 coluna)
D o p o n to d a v is ta d e N e w m a n o e u f e m is m o te m f o rm a d e e x p r e s s ã o “n ã o o f e n s iv a q u e s u b s titu i o u tr a d o c a r a c te r o f e n s iv o ” .3
R a w s o n n o s e u d ic io n á r io r e p a r a a in d a u m a s p e c to m a is :
Os eufemismos são meios linguísticos muito potentes. Estão tão assimilados na nossa língua que só alguns de nós os mais espontâneos podem evitar o uso deles.4
E n u m e r a n d o d e s te m o d o , R a w s o n c h a m a a n o s s a a te n ç ã o a q u e s tã o d a o m n ip r e s e n c ia e o p a p e l q u e o e u m e m is m o d e s e m p e n h a n a v id a d o s f a la n te s . D e f in iç õ e s a p r e s e n ta d a s e m c im a m o s tra m s o b r e tu d o o c a r á c te r g e r a l d o c o n c e ito . P a r a p o d e r a n a lis a r o e u fe m is m o c o m m a is p o r m e n o re s , n e c e s s ita m o s c a r a c te r iz á -lo a i n d a m a is , a p r e s e n ta n d o a s u a c o m p le x id a d e . C o m e s te le v a n ta m e n to d e d e f in iç õ e s , p o d e m o s 1 Cf. (Allan 1991: 11) 2 Cf. (Allan 1991: 3) 3 Cf. (Newman 1995: 51) 4 Cf. (Rawson 1981: 10)
olhar o eufemismo sob diferentes perspectivas. Através de aspectos
particulares envolvidos neste fenómeno podemos caracterizar o
eufemismo de seguida:5
· A ideia base do eufemismo consiste, em duas
palavras, na substituição de uma designação negativa
por uma designação positiva. Esta visão do
eufemismo
como
designação
de
substituição
pressupõe a existência de uma designação directa.
· Eufemismo então pode ser caracterizado como uma
forma de expressão não directa ou autêntica, próxima
da perífrase, e da qual a mentira seria a forma
extrema.
· As funções do eufemismo como já mencionados em
cima: suavizar, atenuar, camuflar ou ocultar uma
determinada realidade ou a expressão que a designa,
ou ainda desviar a atenção do interlocutor de
determinados factos, guiando-o para outros de
importância relativa.
Perante esta diversidade de aspectos, e visando a uniformização da
terminologia ao longo deste trabalho vamos utilizar a seguinte
definição:
Eufemismo é a designação dada a uma unidade lexical (palavra ou expressão), que num contexto específico linguístico e extra-linguístico cumpre uma função suavizante, atenuadora ou desviante. Essa unidade lexical é, assim, um eufemismo em sentido restrito. (Bohlen 1994: 17)
A função dessa unidade lexical (uma palavra, um grupo lexical,
uma frase, um parágrafo ou até mesmo um texto) de suavizar, atenuar,
camuflar ou ocultar factos objectivos, evitando, assim, o emprego de
unidades linguísticas que possam exprimir essas mesmas realidades de
forma directa, sem rodeios, pudores ou constrangimentos, é a função
eufemística dessa unidade.6
5 Cf. (Abrantes 2002: 25-26) 6 Cf. (Abrantes 2002: 26)
Eufemismo na imprensa - estrutura e funcionamento
1333. Eufemismo convencional vs eufemismo oficial
Vamos analisar e distinguir dois tipos de eufemismos que distinguem
também no seu funcionamento. Numa situação discursiva em que
ocorre o eufemismo em resposta a reacção de medo, pudor ou
conveniência, ao estado das coisas que ele ajuda a descrever, a
colaboração entre o locutor e interlocutor estende-se do significado
convencional da palavra e ao seu conteúdo eufemístico. Assim
apresentado o eufemismo tem o caracter ocultante, por esconder a
realidade negativa tanto na codificação como na descodificação. Este
tipo de eufemismo que já temos vindo a tratar podemos chamar de
eufemismo convencional.
Deste modo quando o locutor opta por crescimento negativo em
vez de perder, piratearia em vez de divulgação de cópias ilegais,
fantasiar no sentido de mentir está certamente a usar os eufemismos
. 7
convencionais.
Este tipo de eufemismo pode suscitar uma imagem mental
diferente daquela que é marcada pela designação directa. O
interlocutor não só concorda com o seu uso como o espera do locutor
mas sobretudo nenhuma destas expressões deixa margem de dúvida
quanto ao seu significado real. Ambas as partes da mensagem sabem
bem a que se refere a expressão e deste modo eliminam qualquer mal
entendido entre parceiros do discurso.
Temos dar-nos conta de que apesar da função mencionada o uso do
eufemismo pode condicionar as formas de poder pelo discurso.
Existem então eufemismos característicos para linguagem quotidiana
e discurso oficial e que podem desempenhar várias funções depende
do contexto e das necessidades. A resposta parece ser mais híbrida e
complicada. A dimensão pragmática do eufemismo, a mais importante
no caso de análise realizada, é indissociável da sua dimensão
semântica.
7
Mais exemplos: ser económico com as palavras <não dizer toda a verdade, mentir>, ter sempre a mesma cassete <não cambiar a sua atitude>, falecer <morrer>, prolongada doença <cancro>, dormir com <tem relações sexuais com>, empregada doméstica <mulher a dias> etc.
O e u f e m is m o v e r if ic a - s e n a lin g u a g e m p o litic a m e n te c o r re c ta . E s te c o m p r o m is s o lin g u ís tic o s u r g iu c o m o r e s p o s ta a u m a n e c e s s id a d e d e c o r te s ia s o c ia l, in s p ir a d a n a d e lic a d a q u e s tã o d e r e f e r ê n c ia a o o u tr o .8 O u s o d o e u f e m is m o a p a r e c e ta m b é m n a a g r e s s ã o m a s n ã o d e m o d o tã o d ire c to . A o c u lta ç ã o d a d e s ig n a ç ã o p o d e te r o e fe ito p e r v e rs o q u e s e f a z se n tir. A d e lic a d e z a p r e te n d id a d á lu g a r à ir o n ia c o m q u e m u ita s d a s d e s ig n a ç õ e s p o litic a m e n te c o r r e c ta s p a s s a m a s e r v is ta s .
O u tr o c a s o d o u s o d o e u fe m is m o , m a is d e s ta c á v e l p e lo s e u c a r a c te r c o n tr o v e r s o é a s u a o c o r r ê n c ia n o s m e io s d e in fo rm a ç ã o , p a r tic u la r m e n te n a im p r e n s a . N e s te c a s o a fu n ç ã o d o e u f e m is m o n ã o e s tá lim ita d a á fu n ç ã o d e o c u lta ç ã o o u m e lh o r a m e n to d o e s ta d o de c o is a s . S o b r e tu d o a a te n ç ã o d o s le ito r e s e s tá c a n a liz a d a a o a s p e c to s o u p a r a q u e s tõ e s d e e s ta d o d e c o is a s in te n c io n a lm e n te s e le c c io n a d o s p e la s u a n a tu r e z a n ã o n e g a tiv a m e n te m a rc a d a .
T o d o s e x e m p lo s q u e v a m o s a p r e s e n ta r e s tã o r e la c io n a d o s c o m a v id a p o lític a e a s s u n to s r e la c io n a d o s c o m a c tiv id a d e p ú b lic a .9 U m c o n te x to q u e ilu s tr a b e m e s te u s o d o e u fe m is m o é a f o rm a c o m o a im p r e n s a r e la ta a s a c ç õ e s m ilita re s . M o d if ic a n d o e x p r e s s õ e s q u e n o m e ia m d ir e c ta m e n te a g u e r r a o u e v e n to s r e la c io n a d o s c o m e la e s u b s titu in d o - a s p o r o u tr a s q u e a p e n a s d e s ig n a m o s a s p e c to s m e n o s n e g a tiv o s o u f a v o r á v e is , o in te r lo c u to r é 8 Cf. (Abrantes 2002: 177)
9 Os exemplos que vamos apresentar neste trabalho vêm de jornais e na sua maioria tratam de política. São vários os textos, os comentários de acontecimentos do país, do governo, do parlamento. Serão mais os textos que comentam a vida pública que textos tipicamente políticos. O próprio texto político no caso deste trabalho teria a definição muito geral. Segundo as nossas considerações serão os textos dos políticos e das pessoas relacionadas com a política que têm como objectivo convencer os destinatarios do texto. Os textos políticos pertencem por seu tema ao domínio da política e são destinadas a um largo grupo de pessoas. Têm, então, características persuasivas. - Do ponto da vista de Irena Kamińska-Szmaj todos os textos de área política une o traço que estão todos dirigidos ao receptor de massa. Além disso utiliza se os recursos linguísticos que são submetidos a função persuasiva. O objecto dos textos é claro e bem definido, a persuasão convergente com os fins do emissor que leva a mudança da atitude e do comportamento, a aceitação das ideias ou só para aceitação do mundo dos valores divulgados; Cf. (Kamińska-Szmaj 2001: 8)
e v id e n te m e n te p o u p a d o a o s a s p e c to s n e g a tiv o s d a re a lid a d e , ig u a l, c o m o p o d e m o s o b s e r v a r n o c a s o d o e u f e m is m o c o n v e n c io n a l. I n c o n s c iê n c ia d e s ta f a lta d a p le n a in f o rm a ç ã o r e f le c te d ir e c ta m e n te n a r e a lid a d e p e rc e b id a . O e u f e m is m o o f ic ia l q u e a c a b a m o s d e c o m e n ta r n ã o a tin g e o m e s m o fim q u e o e u f e m is m o c o n v e n c io n a l, d a lin g u a g e m g e ra l. I n f e liz m e n te o le ito r n ã o s e a p e r c e b e d e im e d ia to e s ta r p e r a n te u m e u f e m is m o , f ic a e n tã o n a c e r ta a s s im e tr ia e n a p o s iç ã o d e d e s v a n ta g e m d o e m is s o r. O e u f e m is m o “m is s ã o d e p a z ” u tiliz a d o n o d is c u rs o o f ic ia l p a r a r e f e r ir a g u e r r a p r o v o c a a c r ític a q u e r e s u lta do r e c o n h e c im e n to p o r p a r te d o le ito r d a d is tâ n c ia e n tre a s e x p r e s s õ e s e o q u e e la s d e s ig n a m . ( A b r a n t e s 2 0 0 2 : 1 7 9 ). A p a r e c e a q u i u m a r e la ç ã o a s s im é tric a , v a n ta jo s a a p e n a s p a r a u m a d a s p a rte s . O e u fe m is m o p o r n ã o s e r d e im e d ia to d e s c o d if ic á v e l to r n a - s e o in s tru m e n to d e p o d e r s o b r e o s o u tro s . D á a p e n a s a c o n h e c e r u m a p a r te o u u m a p e r s p e c tiv a d a r e a lid a d e q u e p r e te n d e n o m e a r. ( A b r a n te s 2 0 0 2 : 1 8 0 ). P a r a c o n c lu ir o p ú b lic o to m a c o n h e c im e n to d a r e a lid a d e a tr a v é s d a p e r s p e c tiv a q u e lh e d ã o a s f o n te s d e in f o rm a ç ã o o fic ia is . O e u fe m is m o o f ic ia l e m o c io n a lm e n te m o tiv a d o e c o le c tiv a m e n te a c e ite u s a d o e m c o n te x to p ú b lic o n e m s e m p re s e m o s t r a d e te c tá v e l. N o c a s o d o e u f e m is m o c o n v e n c io n a l te m o s d e v e r c o m p le n a a c e ita ç ã o , n a o u tr a s itu a ç ã o , n o c a s o d o u s o d e e u f e m is m o n a p o lític a , d e f o rte r e c u s a e o b je c ç ã o .10 E s ta r e la ç ã o n a tu r a lm e n te p o d e s e r c o n f litu o s a a p a r tir d o m o m e n to e m q u e d a m o s -n o s c o n ta d e la . A c r ític a e s tá c a n a liz a d a m a is a s p r ó p r ia s e x p r e s s õ e s q u e a q u e m a s u sa .
A s e x p r e s s õ e s c o m o :
danos colaterais, guerra com terrorismo, a
libertação do Iraque, aliança dos unidos, o sucesso significativo,
confrontar-se com ditadores com criminalistas, acção para salvar
toda a nação, o nosso povo defendeu-se mesmo, nesta guerra não há
Eufemismo na imprensa - estrutura e funcionamento
13510 Ao olhar essas considerações põe-se a pergunta seguinte o que e que é verdade e se realmente existe no discurso da imprensa. Em 1936 o filosofo A.J. Ayer escreveu que as duas palavras, os dois conceitos de verdade e de mentira no têm nenhuma conotação, mas função. É mais a nossa aceitação ou rejeição. Segundo A. J. Ayer não há verdade absoluta. O que chamamos verdade e o facto da nossa aceitação em que cremos.
vencidos, a força moral, o mal é a força, política / guerra é um jogo,
seguridade
nacional,
persuasão
física,
depuração
étnica,
neutralização de obstáculos levam no seu sentido o significado
duplicado, que depende da situação que descreve, refere-se a uma
realidade distinta.
Algumas das expressões enumeradas acima começam a morrer no
efeito que elas próprias tentam alcançar. De vez em quando perdem o
seu valor eufemístico e ganam difemístico. A opinião pública ao estar
perante a omnipresença de informação mostra cada vez mais a sua
desconfiança de que não lhe é apresentada a verdade toda. Estas
estratégias muitas vezes aparecem na argumentação e na persuasão
política como um dos meios para esconder assuntos menos populares
e apresentá-los de modo mais aceitável.
4. A teoria de integração conceptual perante o conceito de eufemismo
Ao analisar o fenómeno de eufemismo concentraremos a nossa
atenção no exemplo de colaboração e da proximidade entre a metáfora
e a integração conceptual, que trataremos numa secção à parte, a
seguir.
A teoria de integração conceptual, muitas vezes reconhecida na
literatura como ‘blending’ é uma fase da evolução das ideias
anteriores muitas vezes retomadas e estudadas pelos linguistas. A
estrutura natural que forma e sobretudo produz a nossa percepção e a
sensação está guardado no que nós percebemos e experimentamos
como a conceptualização ou estruturação do significado. A teoria de
metáfora e a teoria dos espaços mentais teve um papel crucial na
apresentação das lacunas na visão abstracta que não deixam de
preservar o estruturalismo, a linguística generativa e a mesma
semântica.
A integração conceptual é a simples habilitação que nos leva ao
novo significado, a uma estrutura, a um conceito indispensável para
memorização e manipulação dos vários parceiros da significação. A
teoria aqui mencionada proposta por Fauconnier e Turner vai ser
analisada do ponto da vista complementar às teorias anteriores,
especialmente a teoria da metáfora conceptual iniciada por Lakoff e
Eufemismo na imprensa - estrutura e funcionamento
137Johnson.
A teoria da metáfora conceptual TMC e a teoria de blending TB
partilha aspectos comuns. Em dois casos, ambas as teorias tratam a
metáfora como fenómeno conceptual e não só linguístico. Ambas as
teorias defendem a projecção sistemática entre domínios conceptuais,
por meio da linguagem, pelas imagens mentais, e sobretudo pelas
estruturas inferenciais. Os dois casos partilham condições e limites
nesta projecção. O primeiro elemento que afasta as duas teorias são
representações mentais. A teoria de metáfora conceptual consiste
numa projecção ontológica e estrutural entre dois domínios
cognitivos. No outro caso, no caso da teoria de blending as unidades
básicas da organização cognitiva são os espaços mentais.11 Na teoria
da metáfora conceptual um mapeamento está estabelecido só entre
dois domínios cognitivos. A teoria de blending pelo contrário é mais
extensa e assenta num modelo de quatro espaços mentais. Trata-se dos
mesmos dois espaços input (que no caso da metáfora correspondem ao
domínio origem e ao domínio alvo), um espaço genérico, que
apresenta a estrutura conceptual partilhada entre dois espaços input e
no final um espaço blend, onde se integram aspectos dos domínios
input.
Temos que ver, então por um lado um modelo que se compõe de
quatro espaços que apresenta também os espaços input por outro com
a projecção unilateral do domino origem ao domínio alvo na teoria da
metáfora conceptual.
11 Os espaços mentais não são equivalentes aos domínios cognitivos, dependem deles e são construídos no discurso e representam cenários estruturados por diferentes domínios cognitivos. Segundo Fauconnier e Turner são pequenos pacotes de informação construídos conforme pensamos e falamos, a fim de possibilitar a interpretação imediata e a acção. - “Mental spaces are small conceptual packets constructed as we think and talk, for purposes of local understanding and action”, G. Fauconnier, M. Turner, Conceptual Integration Networks, University of California, SanDiego, http://www.inform.umd.edu/EdRes/Colleges/ARHU/Depts/English/englfac /MTurner/cin.web/cin.html.
Rede de Integração Conceptual
Fig. 1. Teoria do blending (TB).
A in te g r a ç ã o c o n c e p tu a l a s s e n te n u m a p r o je c ç ã o p a r c ia l e n tre e le m e n to s e q u iv a le n te s - d o is e s p a ç o s in p u t. A s lin h a s c o n tín u a s r e p r e s e n ta m e s ta s lig a ç õ e s q u e p o d e m s e r d e n a tu re z a m e ta f ó r ic a . O e s p a ç o g e n é r ic o e o e s p a ç o b le n d e s tã o r e la c io n a d o s d o s e g u in te m o d o : a e s tr u tu ra g e n é r ic a e s tá c o m b in a d a c o m o e s p a ç o b l e n d c o m e le m e n to s p r o je c ta d o s a p a r tir d o s d o is e s p a ç o s in p u t. D o e s p a ç o g e n é r ic o a p r o je c ç ã o p a s s a p a r a o s d o is e s p a ç o s in p u t e d e s te s p a r a o e s p a ç o d o b le n d f o r m a n d o u m a e s tr u tu ra c o n c e p tu a l e m e rg e n te . A o p a r tir d e s te m o d e lo b á s ic o d e in te g r a ç ã o c o n c e p tu a l v a m o s c o n c e n tra r a s n o s s a s c o n s id e r a ç õ e s n o d e s e n v o lv im e n to d e s ta te o ria p e lo P e r A a g e B r a n d t (B ra n d t 2 0 0 1 : 7 5 ). A s s u a s p e s q u is a s fo rm a m u m a r e s p o s ta a c e rto s a s p e c to s n ã o c o n te m p la d o s p e lo m o d e lo b á s ic o d e in te g r a ç ã o c o n c e p tu a l. B r a n d t p r o p õ e u m m o d e lo d e r e d e s m e n ta is q u e a p r e s e n ta a lg u n s d e s e n v o lv im e n to s d o m o d e lo “p a d r ã o ” de F a u c o n n ie r e T u rn e r.
Eufemismo na imprensa - estrutura e funcionamento
139 O m o d e lo d e B r a n d t d if e r e e m n ú m e ro e n a n a tu re z a d o s e s p a ç o s m e n ta is e n v o lv id o s . N a s u a te o r i a r e c o n h e c e s e is e s p a ç o s m e n ta is , em v e z d e q u a tr o p r o p o s to s a n te r io r m e n te . T e m o s d e v e r c o m a e s tru tu ra s e g u in te : e s p a ç o b á s ic o (b a s e s p a c e ),
e s p a ç o d e r e f e r ê n c ia (re fe re n c e s p a c e ),
e s p a ç o d e a p r e s e n ta ç ã o ( p r e s e n ta tio n s p a c e ),
e s p a ç o d e r e le v â n c ia (r e le v a n t s p a c e ),
e s p a ç o d e in te g r a ç ã o 1 ( b le n d 1) e e s p a ç o d e in te g r a ç ã o 2 ( b le n d s p a c e 2 ).
S e g u n d o B r a n d t u m d o s p r in c íp io s d a te o r i a d a s r e d e s c o n c e p tu a is a p r e s e n ta d a é q u e o s e s p a ç o s in p u t, o s m o to r e s d e in te g ra ç ã o , s ã o e le s m e s m o s r e d e s d e e s p a ç o s m e n ta is . Is to s ig n if ic a q u e o p ro d u to d a in te g r a ç ã o p o d e s e r n o m e s m o m o m e n to o p r o d u to in p u t, o m o to r n a s o u tr a s r e d e s c o n c e p tu a is . C o n c lu in d o e s ta s c o n s id e r a ç õ e s q u a lq u e r c o n s tru ç ã o m e n ta l d e s e n v o lv id a é u m a r e d e c o m p le x a e f o r m a d a p e la s r e la ç õ e s e n tre e s p a ç o s m e n ta is .Fig. 2. Rede de espaços mentais - Per Aage Brandt.
O s m o d e lo s a c im a a p r e s e n ta d o s s ã o só v is u a liz a ç õ e s d e c o n c e p ç ã o , c o n s tr u ç õ e s d o s ig n if ic a d o e n ã o c a u s a m n e n h u m im p e d im e n to à
r a p id e z o u e f ic iê n c ia c o m u n ic a tiv a , m a s s o b re tu d o a v is u a liz a m e a s u p o r ta m . 5 . A s r e d e s d e e s p a ç o s m e n ta is e o e u f e m is m o A o f a la r d o p o n to d e v is ta c o g n itiv o u s a m o s o e u fe m is m o q u a n d o q u e r e m o s n o m e a r c o is a s s e m in d ic a r a im a g e m m e n ta l d e le . O s e u f e m is m o s u s a m o s c o m o b je c tiv o d e a n im a r a n o s s a im a g in a ç ã o . E u f e m is m o s n ã o f o rm a m u m a im a g e m c o m p le ta n a n o s s a m e n te n e m d e f in e m c o m p le ta m e n te o a c o n te c im e n to o u o b je c to . S e m a d e fin iç ã o c o m p le ta a h a b ilita ç ã o d e e n te n d im e n to d e u m a f ra s e é o b s c u ra . A c o m u n ic a ç ã o in te r p e s s o a l, a in te g r a ç ã o d o s e s p a ç o s m e n ta is e m re d e s , é u m p ro c e s s o e s p o n tâ n e o e r e c o rr e n te . P e la s u a n a tu re z a , q u e r d iz e r e f e m e r id a d e , n ã o p o d e s e r r e f o rm u la d o o u r e p e n s a d o e m c a d a m o m e n to d is c u rs iv o . A r e c o r r ê n c ia d e c e r ta s f ra s e s o u p a la v r a s n a n o s s a lín g u a e o u so c o n s ta n te d e la s c o n d u z a g r a v a ç ã o d o s e s q u e m a s m e n ta is d o s f a la n te s e p r o d u z n o m e s m o m o m e n to a d e s c o d if ic a ç ã o e s p o n tâ n e a do s ig n ific a d o , o p a s s o n e c e s s á r io p a r a o s u c e s s o c o m u n ic a tiv o . O q u e j á tín h a m o s d ito r e f le c te a n a tu r e z a d o e u fe m is m o c o n v e n c io n a l. N o c a s o d o e u fe m is m o o fic ia l, a in te g r a ç ã o d o s e s p a ç o s m e n ta is n ã o é d e im e d ia to tr a n s p a r e n te p a r a u m d o s p a r c e ir o s d o d is c u rs o , p o d e le v a r e n tã o a o m a l e n te n d im e n to . S e g u n d o L u tz (L u tz 1 9 8 9 : 67) q u a n d o o e u fe m is m o é u s a d o p a ra m a n ip u la r le v a à in c o m p r e e n s ã o .12 P r o p o m o s a p r e s e n ta r d o is e x e m p lo s d e r e d e s d e e s p a ç o s m e n ta is e m d o is c a s o s d e e u f e m is m o s d is tin to s . C o m o j á tiv e m o s a o p o r tu n id a d e d e d iz e r e x is te m p a ra re la m e n te , d e u m a p a r te o e u f e m is m o c o n v e n c io n a l, d e o u tr a p a r te o e u f e m is m o o f ic ia l. O e u f e m is m o c o n v e n c io n a l é a s o lu ç ã o d ip lo m á tic a p a r a p o d e r f a la r d e d o m ín io s d e e x p e r iê n c ia c la s s ific a d o s c o m o ta b u e p o r ta n to
12 Segundo Lutz é possível distinguir entre eufemismo e a manipulação. “when a euphemism is used to deceive, it becomes doublespeak - the sole purpose of doublespeak is to make the unreasonable seem reasonable, the blamed seem blameless, the powerless seem powerful”; Cf. (Lutz 1989: 67)
Eufemismo na imprensa - estrutura e funcionamento
141in o m in áv eis, sob o risco de p e rd a de face p ara a m b o s os in te rlo cu to res. A p a re c e m aq u i os ele m e n to s e m o c io n a is com o m ed o ou pudor, q ue to d o s p a rtilh a m o s cu ltu ra l e so c ia lm e n te . Isto é a in d a o sin a l e v id en te de co o p e ra ç ão d isc u rsiv a ex isten te b a se a d a n a sim e tria in terlo cu tó ria.
O e u fe m ism o o ficial in d ic a u m a re la ç ã o a ssim é tric a entre lo cu to res, b e n e fic iá ria so m e n te p a ra u m a das p artes e p o rtan to m u itas v e z e s c o n flitu o sa . O eu fem ism o o fic ia l to rn a -se u m in stru m en to de p o d e r so b re a o u tra parte. C o n siste n a a u sê n c ia de co lab o ração sem ân tica, p o r n ão se r de im ed iato d e sc o d ific á v el e p o r a p re se n ta r só u m a parte, só u m a p e rsp e c tiv a d a re a lid a d e q ue p re te n d e n o m ear.
A p ro v e ita m o s a d istin ção feita p ara a p re se n ta r os p ro cesso s m e n ta is en v o lv id o s n a co n stru ç ã o d estes d o is caso s de eu fem ism o s.
C o m e ç a m o s a n o ssa an á lise por a p re se n ta ç ã o de eu fem ism o c o n v en cio n al. A su a o m n ip re se n ç a é v isív e l n ão só n a lin g u ag e m q u o tid ia n a m as ta m b é m no d iscu rso p o lítico , n a p ren sa e p o r to d a s as p a rte s q ue p en etra a língua. T e m a v e r co m c e rta co m b in a ç ã o de form as, de in flu ên cias, com v á rio s n ív e is da m esm a lín g u a no p ro cesso d isc u rsiv o d a so c ie d a d e c o n tem p o rân ea. A s ex p re ssõ e s com o: j á n ã o e stá en tre nós, a d o rm e c e u p a r a sem p re, veio a o m undo,
E le a n d a co m ela, p e r s u a s ã o física, p ira te a ria , d e sv ia r-se d e verdade, colorar, te r im a g in a ç ã o m u ito viva, te r a m e sm a cassete, ca rtã o a m a re lo a o G overno, a terceira id a d e estão p resen tes em ca d a d ia da
ac tiv id a d e e a in d a m a is o seu sig n ific a d o n ão d e ix a so m b ra de d u v id a do q ue eles tratam .
T e n te m o s a g o ra a n a lisa r u m d o s ex e m p lo s a cim a a p re se n ta d o s a tra v é s d o s esp aço s m en tais. Im a g in e m o s o caso q ue a lg u ém se ex p rim e a c e rc a de p e sso a re c e n te m en te n a sc id a veio a o m u n d o . N esta e x p ressão e so b re tu d o no co n tex to em q ue ap arec e, re c o n h e c em o s um esp aç o b ásico (base space) no q u al é d ita a ex p ressão . E ste espaço co n tem m ais in fo rm a ç õ e s co n te x tu a is esco n d id as, com o a n o tíc ia do n asc im e n to de u m a p essoa, do in ício da su a vida, d a relação in terlo cu tò ria , e so b re tu d o d a situ a ç ã o em q ue é p ro fe rid a a frase, a n o v id a d e do n a sc im e n to de u m a criança.
(referen ce s p a c e )
.
N este esp aço g u a rd a -se o co n te ú d o in fo rm ativ o da ex p ressão , tu d o isso a que e la se refere, a a le g ria do n a sc im e n to da pessoa.N o se g u in te espaço, o esp aço de a p re se n ta çã o (p resen ta tio n sp a ce ) c o n siste n a fo rm a co m o é e x p resso o n ascim en to , n o m e a d a m e n te co m o a ch eg ad a, o re su lta d o d a lo n g a esp era. O s d o is esp a ç o s m e n ta is e n v o lv id o s são d istin to s, o n a sc im e n to p o r u m lado, p o r outro, u m a c h e g a d a com o re su lta d o d a espera. E stes d o is esp a ç o s to rn a m -se p ro je c ta d o s p ara u m o u tro espaço, fu n d e m -se no p rim eiro esp a ço de in te g ra ç ã o (b le n d e d sp a c e )
.
A q u i m esm o in icia-se a sig n ificação :n a s c e r é a p a re c e r, v ir ao m u n d o . E le veio, ch e g o u , m o stra m que
a ssim é co n c e p tu a liza d o n ão só n a sc im e n to m a s ta m b é m o in ício da v id a: A v id a é u m a viag em .
N e ste eu fem ism o c o n v e n c io n a l a p arece a in d a o u tra p ro jecção , a in te g ra ç ã o do p rim eiro esp aç o b le n d co m o esp aço de re le v â n c ia para u m n o v o e sp aço de in teg ração (b le n d e d sp a c e 2 )
.
A q u i en c o n tra m o s a m e tá fo ra de n a sc im e n to com o in ício d a n o v a v id a e o esp aço de re le v â n c ia de a p a riç ã o e co m p a n h ia. A q u i ta m b é m se fu n d e a id eia de n a sc im e n to com tu d o que se p reten d e dele tra n sm itir. O m esm o n a sc im e n to m o stra -se co m o a o rig em d a n o v a v id a, u m a en tre o u tras q ue j á p a ssaram a lg u n s etap as d a su a ex istên cia.O co n te ú d o do esp aço de in teg ração 2 é tran sm itid o a in d a m ais e e stá p ro je c ta d o de no v o no esp aço de b ase fec h a n d o o circuito.
A id e ia de re d e de esp a ç o s m e n ta is no caso do eu fem ism o c o n v e n c io n a l p o d e se r a p re se n ta d a da se g u in te form a:
Eufemismo na imprensa - estrutura e funcionamento
143Fig. 3. Rede de espaços mentais - eufemismo convencional.
N o caso do eu fem ism o o fic ia l é em tu d o se m e lh a n te ex cep to o que to c a ao d o m ín io de relev ân c ia. D isse m o s a trá s que o eu fem ism o o fic ia l pode, p o r se r d ifícil p a ra d e sc o d ific a çã o im ed iata, to rn a r-se um in stru m e n to de p o d e r so b re os outros. P o r su a n a tu re z a q ue d á a p en as a co n h e c e r u m a p arte ou só u m a p e rsp e c tiv a d a re a lid a d e q ue p reten d e n o m e a r v isu a liz a a a ssim e tria en tre lo c u to r e in te rlo c u to r no discurso. P o d e se r u tiliz a d o pelo G o v e rn o p a ra m a n ip u la r a o p in ião p ú b lic a para d e m o n stra r as a c tiv id a d e s m e n o s p o p u la re s m a is a c e itá v eis e m ais p o sitiv as. E n tre n u m e ro so s ex e m p lo s q ue p o d em o s p ro p o r aq u i n e c e ssita m o s d elim ita r a n o ssa an á lise ao p eq u en o n ú m ero , dos ex e m p lo s m ais e v id e n te s e m ais freq u en tes.
A m a io ria d o s e x em p lo s está re la c io n a d a com a a c tiv id a d e m ilitar, co m g u erra. T e m o s de ver, en tão com tiro s n ã o co n tro la d o s q u er dizer tiro s n o s e d ifíc io s n ão m ilitare s, a ta q u e a n te c ip a d o q ue sig n ific a a
in v asã o m ilitar, s in istra d o s - m o rto s e ferid o s, g u e r r a a ssim é tric a as ac tiv id a d e s ile g a is d u ran te ac ção m ilitar, g u e r r a é p o lític a fe ita
a tra v é s d o s m e io s d istin to s
,
g u e rra /p o lític a é um jo g o , d a n o s c o la te ra is são m o rto s, ferid o s e a d e stru iç ã o d e p o is de g u erra, g u e rra co m te rro rism o ou lib e rta ç ã o d o Ir a q u e é n a d a m ais que a c ção m ilita rc o n tra este país, etc.
A g u e rra m u ita s v e z e s está a p re se n ta d a com o: a fo r ç a m o r a l,
se g u ra n ç a so c ia l
,
d e p u ra ç ã o étn ic a,
n e u tra liza ç ã o d e o b stá c u lo s,
d e fe n sa , s o lu ç ã o fin a l, p a c ific a ç ã o o u m is s ã o de p a z . P o d e m o s re p arar
fac ilm e n te qu e to d a s e x p re ssõ e s a n a lisa d a s só de u m p o n to d a vista, de u m a p e rsp e c tiv a p o d em se r ilu só rio s.
D e d ic a m o s assim , e sta se c ç ã o a u m o lh ar so b re a estru tu ra e um fu n c io n a m e n to de eu fem ism o o ficial. V e ja m o s o ex em p lo da e x p re ssão lib e rta ç ã o d o Ir a q u e re la c io n a d a com a c o n te c im e n to s a ce rc a de a c ç õ e s m ilita re s c o n tra o Iraque.
O esp aç o de b a se (base sp a c e ) é p reen ch id o pelo co n tex to da n o tíc ia de im p re n sa q ue re la ta os a c o n te c im en to s d e sig n a d o s por lib ertaç ão , no c o n tex to de g u erra. O d o m ín io de ap re se n ta çã o
(p resen ta tio n sp a c e ) é in d e p en d ên cia. A in d e p e n d ê n c ia é c o n c e p tu a liza d a co m o u m estad o n o rm a l e esp erad o pela so cied ad e.
O d o m ín io de re fe rê n c ia (referen ce sp a c e ) é u m d o m ín io to ta lm e n te oposto: re p re se n ta a a c çã o m ilitar, a g u e rra com o te rro rism o . Isto é co n sid e ra d o com o d esa rm o n ia, q u e b ra do estado n o rm al, u m a sé rie de acç õ e s vio len tas.
O s d o is d o m ín io s estão p ro je c ta d o s p a ra u m d o m ín io de in teg raçã o B le n d 1 (b le n d e d sp a c e 1)
,
o n d e p o d em o s e n c o n tra r o co n ceito de lib ertação , u m p ro cesso .O esp a ço de re le v â n c ia co n tem os ele m e n to s n em se m p re v isív el, ou se ja ac ç õ e s u tiliz a d a s d u ran te a g u e rra com o m e io s e a lib ertação e p a z com o o fim . A m e sm a ex p re ssã o lib e rta ç ã o e stá m a rcad a p o sitiv a m e n te e no se u se n tid o n ão lev a n en h u m a d e sig n açã o n eg a tiv a , v io le n ta ou de guerra.
N o esp aço b le n d 1 crio u -se a n o ção de lib ertaçã o , u m p ro cesso que p re ssu p õ e u m c o n ju n to de a c ç õ e s (m ilitares) e a p o n ta p a ra u m estad o de lib erd a d e q ue se pro cu ra. T e m a v e r aq u i com a fa lta de
Eufemismo na imprensa - estrutura e funcionamento
145 c o la b o r a ç ã o s e m â n tic a e n tre o s in te r lo c u to r e s . A lib e r ta ç ã o e s tá p e r c e b id a c o m o o p r o c e s s o c o m o s e u fim , r e le g a n d o a s a c ç õ e s le v a d a s a c a b o c o m v is t a a e s s e r e s u lta d o f in a l p a r a u m p la n o s e c u n d á rio . D e s t a s e g u n d a p r o je c ç ã o r e s u lta , p o rta n to , u m a n o v a in te g r a ç ã o b l e n d 2 ( b le n d e d s p a c e 2). A q u i e s c o n d e -s e a e s s ê n c ia d o e u f e m is m o o fic ia l, b a s e a d o n u m a r e la ç ã o a s s im é tr ic a d e p o d e r p e lo d is c u rs o e n tre o s in te rlo c u to re s . N o ta - s e o d e s v io d a a te n ç ã o d e a s p e c to s m e n o s a g r a d á v e is p a r a o u tr o s e s c o lh id o s p a ra m a n te r o p o d e r in f o rm a tiv o do lo c u to r s o b r e o s r e c e p to re s . O q u e fic a c o m e n ta d o p o d e s e r r e p r e s e n ta d o d o m o d o s e g u in te :Fig. 4. Rede de espaços mentais - eufemismo oficial.
O r e s u lta d o d a in te g r a ç ã o d o e s p a ç o b l e n d 2 é a o m e s m o m o m e n to p r o je c ta d o p a r a o e s p a ç o b a s e . P e la s u a p o u c a tr a n s p a r ê n c ia n ã o é c o m p a tív e l c o m o c o n te x to d e e s p a ç o b a s e . N o r e s u lta d o o c o n te x to in f o rm a tiv o n ã o f ic a c la r o e tr a n s p a r e n te . O c a r a c te r d o e u fe m is m o
o ficial, a su a fo rç a e poder, p ro d u z e m -se a tra v é s de falta da d e tecção o d esv io n a red e de esp a ç o s m e n ta is activ o s, n a fase de tra n sm issã o das in fo rm açõ es.
6. C o n c lu sõ e s
N o p resen te trab alh o ap re se n ta d o fez-se u m a d istin ção en tre d o is tip o s de e u fe m ism o : eu fe m ism o tra d ic io n a l e o ficial. A d ife re n ç a en tre os d o is tip o s de eu fem ism o b a se ia -se n u m a re acção e m o tiv a peran te a m b o s, a c e ita ç ã o pera n te o p rim e iro e de fo rte re c u sa p eran te o seg u n d o .
A s e x p re ssõ e s e u fe m ístic a s c o n v en cio n ais, a n a lisa d a s por in te g ração c o n c e p tu a l re sp e ita m a o rg a n iz a ç ão de re d e s m en tais can ó n ic as. N in g u ém tem o p ro b le m a com d e sc o d ific a çã o do sen tid o co rrecto , é se m a n tic a m e n te re c o n h e c ív el e eficaz.
O eu fe m ism o o ficial, pelo co n trário , a e stru tu ra d o s esp aço s m e n ta is m o stra certa d esa rm o n ia q ue é a ú n ic a razão do u so dele com o estra té g ia de p o d er pelo d iscurso.
D e ste m odo, a p e sa r de d im en são m ais e v id en te do eu fem ism o que é p ra g m ática , q u e r d ize r a s su a s fu n ç õ e s e efe ito s q ue p ro d u z n a re la ç ã o en tre os in terlo cu to res, é “s tric te " re la c io n a d a co m a su a d im e n sã o se m ân tica . A su a fo rça é d e te rm in a d a p elas e stratég ias lin g u ístic a s a c tiv a d a s n a co n stru ç ã o d a ex p ressã o eu fem ística.
Referências bibliográficas
Abrantes, A. (2002): “Eufemismo e integração conceptual” [in:] Revista Portuguesa
de Humanidades, VI, pp. 175-190.
Abrantes, A. (2002): É a guerra O uso do Eufemismo na Imprensa. Viseu: Passagem Editores.
Allan, K., Burridge, K. (1991): Euphemism & Dysphemism Language Used as Shield
and Weapon. Oxford: Oxford University Press.
Ayer, A. J. (1993): Linguagem, Verdade e Lógica. Lisboa: Editorial Presença. Bohlen, A. (1994): Die sanfte Offensive. Berlin/New York/Paris: Peter Lang.
Brandt, P. A. (2001): Mental space networks and linguistic integration, [in:]
Linguagem e Cognição. Braga: Universidade Católica Portuguesa, pp. 63-76.
Fauconnier, G. (1997): Conceptual Integration Network. San Diego: University of California.
Eufemismo na imprensa - estrutura e funcionamento
147Kamińska-Szmaj, I. (2001): Słowa na wolności. Język polityki po 1980 roku. Wrocław: Europa.
Lakoff, G. (1980): Metaphors We Live By. Chicago: Chicago University Press. Lutz, W. (1989): Doublespeak. New York: Harper and Row Publisher.
Machado, J.P. (1977): Diccionario Etimológico da Língua Portuguesa. Lisboa: Livros Horizonte.
Mills, C.W. (1988): Elita władzy. Warszawa: Wiedza Powszechna.
Newman, A. D. (1995): Sociology: Exploring the Architecture o f Everyday Life. Thousand Oaks, CA: Pine Forge Press.
Rawson, H. (1981): A Dictionary o f Euphemisms and Other Doubletalk. New York: Crown Publishers, Inc.
Referenda, W. D. (1991): Encyclopaedia o f Language and Linguistics, Oxford/New York: Hypergamous Press.
Silva, A. (1990): Novo Dicionário Compacto da Língua Portuguesa. Lisboa: Confluência/Livros Horizontes.