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INSTITUTO . DA COOPERAÇÃO E DA LÍNGUA
PORTUGAL
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UNIWERSYTET MARIICURIE-SKŁODOWSKIEJ W LUBLINIEMINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS
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Índice
. “ É hoje... ” - Conto de Ewa Szafrańska
. As mulheres no mundo dos videojogos - Magdalena Jóźwik . Não compreendo! - Małgorzata Tracz
. Os livros de Ryszard Kapuściński - Weronika Ślęzak . Atividades do Centro de Língua Portuguesa/Camões no ano letivo 2013/2014
. 3° Congresso dos Estudantes Lusitanistas da Polónia:
Unidade e Diversidade no Mundo Lusófono - Anna Tylec e Katarzyna Janowska - Bartosz Suchecki
- Grzegorz Kobędza - Magdalena Góralska - Michał Belina
Redação:
Justyna Wiśniewska Lino Matos
Diretor artístico:
Jorge Branco
Editado pelo Centro de Língua Portuguesa/
Camões em Lublin Diretora do Centro:
Professora doutora Barbara Hlibowicka-Węglarz
É HOJE...
Ewa Szafrańska 3° ano de Estudos Portugueses UMCS, Lublin
Tudo começouda maneira simples. Àsvezes, quando estou na minha cama, tentando adormecer, quando olho para a lua misteriosa e brilhante, aminha primeira e única confessora, aúltimaacondenar ejulgar achomesmo que foi simplesdemais... Naquelesmomentoscurtos e fugiti vos da minha extremafraqueza,quando a lucidez da minha mente se recusa a obedecer-me, quando aminhaconsciên cia irrompeda nulidade em que normalmenteestáimer
sa, nesses momentos não posso suportaratrivialidadee ainconsciência dessa pequena decisão queme privou de todaainocência e de todas as ilusões da juventude ingé nua. Lembro-memuito bem desses momentos daminha adolescência, quando as minhas pequenas dores e asmi nhas lutas diárias sem importância deixavam-me louca.
Quando a menor dúvida parecia serofim trágico do meu mundo limitado. Ó, comome parece hojeestúpido,patético e idiotaesse pensamento superficiale precipitado.
Quandoestava quasea terminaros meus estudosna escolasecundária, quando eu ia ser umapessoa livre, um jovem capaz de decidir sobre a sua própriavida, sem “o fazer enão fazer”, estava preocupadoque tinha 18anos e não consegui nada na minha vida,não tinha nada que pu
desseser verdadeiramente “meu”.E, quando esperava fi
nalmente encontraruma paz de espírito, perdi-o... Onome da minhaperdiçãoéBaudelaire. Sempre que fecho osmeus olhos,eu posso ver essas palavras que tinha visto pela pri meira vez nas aulas, nas cópias dadas pelo professor, com vivacidade surpreendente, como se tivessem sido esculpi dasnasminhas pálpebras:
É preciso estar sempreembriagado. Aí está: eis a única questão. ParanãosentiremofardohorríveldoTempoque verga e inclina para a terra, é precisoque se embriaguem sem descanso.Com quê? Com vinho, poesiaouvirtude, a escolher.Masembriaguem-se.
Como eu poderiadizer “não”à resposta parao meu tormento interior que me foi dada numa bandejade pra
ta? Como poderia resistir à escolha tão generosa que me foi oferecida? Pela primeira vezna minha vida eusentique a decisão pertencia inteiramente a mim, era o mestre do reino escuro, o soberano desta entidade estranha, demim mesmo...Mas,novamente,oqueeupoderiaescolher? O que deveria escolher? Onde estava a resposta? Onde estavao consolo e confortopara a minha almamartirizada?
Poesia? Eu odiava poemas ainda maisdo que romances.
Odiavaas mensagensocultas, as verdadesnãocontadas, as metáforas que ninguém pediu e que pareciamsercriações de algumas criaturas mentalmente perturbadas que esse mundo deuà luz como resultado de alguma anomaliain compreensível.Não, a soluçãonãopodia ser poesia.
Virtude? Não estava a minha vida jácheia dela?Será que eu não fazia o suficiente para os outros?Tinha obedeci
do a todas as regrasque foram criadasdesdeonascimento
É HOJE...
da humanidade, amei o meu próximocomoamimmesmo e onde estavaeu? Não, virtudeseramparaos perdedores, e eu, pelaprimeiraveznaminhavida,queriaser umvence dor, liderar a pelotão,ser camisola amarela.
E então vieram longos anos de esquecimento doce, da inconsciência com sabor de uvas fermentadas. Eu per
di tudo, até mesmo coisas que eu nunca tive, sendo num relacionamentocom um pedaçodo vidro verde.Depois de algum tempo comecei a acordar dessa dança sonambúlica.
Eu entendi que o preço que eu pagava pela calma ilusória era demasiadoelevado. Era hora de uma novanegaçãoexis tencial,um novociclode questões sem respostas. Em vezde camisolaamarela, usavauma camisa suada.
Acha que não hánenhuma esperança paramim?Que estou eternamente perdido e condenado, que nãohá futu
ro paraum serhumano da minhaespécie?Deixe-medizer uma coisa.Gostaria de sabê-lo naquela época da minha ju ventude perdida. O Baudelaire não conhecia todas as res postas, ele não era um profeta, não tinha o monopólio da verdade. Anselmo tem.Um músico bem sucedido graças a Deus. Éhojeque estou no caminho certo, quero come çara minha recuperação, emergir da nulidade.Seique com ele, com a suaorientação,oescuro parecerá claro,oincerto tornar-se-ácerto e a camisa suada,umdia, transformar-se-á numa amarela.
AS MULHERES NO MUNDO DOS VIDEOJOGOS
Magdalena Jóźwik 2° ano de mestrado em Estudos Portugueses UMCS, Lublin
Quandocomeçoa falar sobre uma dasminhas paixões, osvideojogos, a reaçãomais comum é um sorrisocondes cendente e sempre amesma pergunta:não são osjogosum coisa para crianças? Aminha respostaé: não. A indústria dosvideojogosé umadas que tem o desenvolvimento mais rápido noentretenimento, com uma comunidade de joga dores que estáa crescertodosos dias. Uma dasrazões des te aumento é a popularidade dos canais de jogadores no YouTube, onde as pessoas carregam os guias, as dicas ou simplesmente os vídeos divertidos feitos em jogos (muitas vezes mostrando as falhas do jogador ou outras maneiras de jogar). Porcausa disso, hámuitas pessoas para as quais jogar e gravar osvídeos é umtrabalho.
A popularidadedessestipos decanaisnoYouTube po
de-se ver nos números: na lista dos dez canais com mais subscrições em abril de 2014há três canais dedicados aos videojogos, e o canal como maior número de subscrições em todo o Youtube é ocanalde PewDiePie,o jogadorsueco, com26424196 subscrições.Nacomunidade dos jogadores não importa aidade, a nacionalidade ou a plataformaem quese joga:seja o computador, a consola ou simplesmente o telemóvel. É fácil ser um jogador. Mas, é fácil ser uma mulhernacomunidadedevideojogos?
Os videojogos ainda são considerados uma coisa para oshomens, porissomuitas vezes tenho problemas diz Ula (23),estudante deBialystok e minha amiga.Foi ela que me introduziu nos videojogosháquase quatro anos.Comecei a jogar há maisde17anos, quando tinha cinco anos e com osmeusirmãosrecebemosumcomputador no Natal. Estou orgulhosada minha coleção de jogos, omeu conhecimen
to deles e a minha experiência, mas até hoje, quando, por exemplo,uso a páginade troca de videojogos, tenho de es
crever comosefosseum homem, porquequando osoutros conhecem omeu sexo, nãome levam a sério.
Aversão, ódio,atéahostilidade aberta e as piadas sexis tas de mau gosto são reações comuns à jogadoras da parte masculina da comunidade. É difícil definir a causadeste desprezo; talvezos jogadores achem queas mulheres des troema falsaexclusividadeda suapaixão?Omesmo acon tece no caso da BD, ficção científica ou fantástica: sendo mulher,é muito difícilseraceitepelorestoda comunidade.
Todas têm de repetidamente provar o seu conhecimento sobre a história,o mundo ou os personagens e lutarcontra o rótulo deimpostor quena realidade não é umfã verda
deiro.
Acho que quase cada mulher já foi alguma veza vítima das piadasdosoutros jogadores. Porisso, nãocostumo usar o chat de voz quando estou no videojogo com as pessoas desconhecidas.Quase todas as vezes que eu disse algo, a únicacoisaque ouvi foi a pergunta porque não estás na cozinha? O que me levoua gritar aos outros e lutar com eles e não jogar continua Ula. Elessão fãs devideojogos; eu
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AS MULHERES NO MUNDO DOS VIDEOJOGOS AS MULHERES NO MUNDO
DOS VIDEOJOGOS NÃO COMPREENDO!
também sou. E,comoeles, eu tenho o direito de apreciá-los eirrita-me muito que tantos jogadores consideremos video- jogos comoumaespécie de clubesó-para-homens.
Muitos jogadores dizem que podem justificar esta reação pelo choque de encontrar uma mulher que gosta de videojo- gos (para mim, nãoexisteNENHUMAjustificação possível paraosexismo,misoginia e adiscriminação das mulheres emqualquer lugar). Acham que o númerodas jogadoras, comparando com oshomens,é pequeno. Pelo contrário; se gundo um estudosobre o ano 2013 da Entertainment Sof
twareAssociation (ESA: a associaçãocomercial da indústria dos videojogos nos Estados Unidos),48% dos jogadores e 50% dos compradores frequentes de videojogos são as mu lheres. O que é ainda maisinteressante, mulheres de18 ou mais anos representam um grupo significativamente maior dos jogadores do que os rapazes de 17ou menos anos (36%
e17%,respetivamente).
Então, é realmente razoável considerar os videojogos comoumacoisaprincipalmentepara os rapazes adolescen tes?
Outroproblemagrandenão só nos videojogos,mas em toda a indústria do entretenimento éa falta darepresenta ção das mulheres. Estefactopode-se verificar comos dados muito recentes. Durante todas as conferências da E3(Elec- tronic Entertainment Expo, uma feira internacional dedi cadaa jogos eletrónicos, considerada amaisimportante de todos oseventos deste tipo), Microsoft, EA, Ubisoft e Sony, os maiores produtores de videojogos no mundo, foram apresentadosmais de cem jogos; só três (excluindo aqueles que permitem a personalização de personagem) tinham a mulher como protagonista. As mulheres que aparecemnos jogos são geralmente estereotipadas, sexualizadas edesper sonalizadas;podemos dividi-las empelo menos duas cate gorias. Primeira, amais comum, éamulher que existesóno fundo,sem o objetivo aparente.Muitas vezes são as vítimas doscrimesdo antagonista no início da históriapara motivar oprotagonista a lutare vingar-se. Outrotipode persona gensque aparecem nos videojogos sãoaquelas com a apa
rência que éum sonhodetodas as mulheres no mundo, com a roupa reveladora que cobre quase nada,mas muitas vezes considerada armadura. No entanto, é difícilchamar arma dura a algo queparecemais a roupa interior; especialmente quando o equivalente masculino da mesma armadura cobre todo ocorpo do personagem. Estaéa razão pelaqual eu gosto de Skyrim (TheElderScrolls V: Skyrim, 2011), diz a minhairmã,Basia (27).As mulheresque encontro nasvá
rias localidades do mundo destevideojogosãotão impor tantes comooshomens, e as histórias delas sãoigualmente interessantes. E,claro, a armadura disponívelé prática e re
almenteprotege contra os inimigos e não mostra só o corpo da personagem. Issonãoexistena maioria dos videojogos que eu conheço. Quando comecei a jogar, nos anos 90, não conhecia nenhum jogo com a mulher-protagonista. E quan do finalmenteapareceu uma heroína forteeindependente:
Lara Croft (1996),foi necessário que tivesse aspeto perfeito eimpecável, que setornou um símbolo sexual, para que os
homens nãose queixassem de uma mulher como protago nista, diz Ula.
A maioria das jogadoras comas quais falei numa das re
dessociaissobreoassunto da representação feminina nos videojogos dizia a mesma coisa:o aparecimento das per sonagens femininas é muito importante. Adição dos per sonagens diversos com os quais podemos identificar-nos definitivamente aumenta o valor do jogo. Afinal, nemto
dos somos homens brancos de 30até40 anos, com ocabelo castanhoou preto e barba de vários dias.
Felizmente,pouco a pouco a situaçãoestá a mudar. Mui
tas vezespor causa de protestos da mesma comunidade; os jogadores estão cansados das mesmasjustificaçõesequerem maisdiversidade nos videojogos. O exemplo perfeito deste tipo de ativismo é alvoroço enorme que começou depois da apresentação dos novos títulos das séries Assassin's Creed eFar Cry da Ubisoft. Na parte de cooperação destes video- jogos (quatro pessoas emAssassin's Creed V: Unity, duas pessoas no caso de Far Cry 4), todas as personagens são homens; osrepresentantesdo produtorjustificamestefacto dizendo que não tinham tempo nemrecursos financeiros paraanimar os modelos de mulheres e que aanimação das personagensfemininasduraria duas vezes mais tempoepo dia atrasar todoodesenvolvimento dos videojogos. Asérie Assassin's Creedé uma dasminhaspreferidas e, como para muitas pessoas na comunidade,nãoaceito esta justificação.
Como podemos acreditarque a Ubisoft, um dosmaiores e mais conhecidos produtores de videojogos no mundo não tenha recursos financeiros e tempo?
E o tempo? Em março foirevelado que o novo título da série tem estado em desenvolvimento hápelo menos três anos em dez estúdios de todo o mundo (alémdo princi palUbisoft Montreal, no jogo contribuíramosestúdios de Toronto, Kiev, Singapura, Xangai, Annecy, Montpellier, Bucareste, Quebec,e Chengdu). Éumpouco estranho que nenhum deles teve tempo para criar o modelo feminino do personagem.
Mesmoque os comentários não tenham influência no desenvolvimento destes jogos, um número enorme de pes
soas que expressam estas opiniões pode causar que outros produtores dêemconta do seu público e notem as deman das por personagens mais diversos. Poderia também mudar aopiniãodaqueles que dizem que a falta da representação maisdiversa nos videojogos não éumproblemarealeque a coisa maisimportante no videojogo é ajogabilidadee o divertimento, e nãoo sexo do protagonista.Seissonão im
porta, porque há tão poucos jogos com protagonistas femi
ninas?
Diz-se que o século XXI é um século em que aigual dade existe na sociedade, mas há muitosaspetos em que esta igualdade chega muito lentamente.A situação está a mudar;a parte femininadacomunidade dos jogadorestem cadavez mais reconhecimento,e, por conseguinte,no futu
ro pode aparecer maiorrepresentação feminina nos jogos.
Grande parte nesta mudança têm também as mulheres-ce lebridades associadas com o mundo dos videojogos: seja as
próprias criadoras (por exemplo Kiki Wolfkill de 343 Indus tries, Amy Henning de Naughty Dog, Lucy Bradshaw de Electronic Arts ou Jill Murray de Ubisoft), as responsáveis pela promoção(Fragdolls)ou as personalidades femininas do YouTube (Meg Turney, também conhecida pelo seu cos- play e Ashley Jenkins, que antes trabalhava na Microsoft e Ubisoft, deRooster Teeth, Lindsay Jones de Achievement Hunter, Cleo do canal Games4FiteouAshly Burch deHey Ash, Whatcha Playin').Onúmerocrescentedelas e das pró priasjogadorasmostra que o mundo dos videojogos não é só para oshomens.Pessoalmenteespero que os membros desta comunidadeeospróprioscriadores dos jogos nofim dêem conta disso.
Małgorzata Tracz 3° ano de Filologia Ibérica UMCS, Lublin
Quantas vezes já ouviu esta frase? Estou certa que já perdeu a conta. Os mal-entendidossãoalgo comum. Acon tecem em varias situações e, às vezes, é impossível evitá -los. Conforme a minha experiência, posso enumerar três exemplos:
Os mal-entendidoslinguísticos
Sem dúvida, são os mais básicos. Opolaco nãoé uma língua muito usada no mundo, ou seja, a maioria dos falan tes tem origem na Polónia. Assim, necessitamos de estudar as línguas estrangeiras para comunicarmos mais facilmente comoutraspessoas. Quando tinha maiso menos 15 anos, a minha amiga e eu decidimos viajar para Espanha. Conhecia algumas palavras e expressões em espanhol eorgulhava -medisto (pensando “inteligentemente” que já era quase comoumaespanhola...).AochegaraEspanha,informei os outros companheiros deviagemsobreas minhas “capaci dades”. Então, eles pediram-me que lhes encomendasse quatro sumos de laranja (em espanhol naranja). “Quatro sumos denarana [naranha], por favor!”-pedi comum sor riso de orelha a orelha.“De quê?! Não compreendo.”, “De narana”- repeti,indicando como dedo laranja. “A! Naranja [nara^xa]"- disse o vendedor. Em polaco “j" pronuncia-se talcomo “i” nos ditongos em portuguêse é por isso que cometiesseerro crasso.
Duranteasúltimasfériasvisitei as Ilhas Canárias. O sol, as praiaslongase...dezenas de turistasestrangeiros. Entre outros, muitos franceses.No liceu,tinha estudadofrancês e, apesar denão sermuito fluente na fala, compreendiatudo.
Umdia,regressando da praia de Fuerteventura, encontrei duasfrancesas. Perguntaram-me se falava a sua língua.Dis se que sim,mas que estava mais a vontade a falar inglês.
Então uma das senhoras perguntou à outra “Como se diz mar em inglês?”. Entendiasuaconversae interrompi “Mer (mar em francês) - sea “.Como? “Mer-sea” ( “merci” em francêssignificaOBRIGADA!).Ambasasmulheresconcor daramemqueeunãofalavafrancêseforamembora.
Osmal-entendidos na mesma língua:
Nemtodos sabem, mas opolacotambémtemvariantes, como o da Silésia ou da Cassúbia (Kaszuby). Além disso, usamosmilhares de regionalismos. Vou dar alguns exem plos mais populares para mostrar como isto funciona no dia-a-dia:
As batatas.Na minha região lubelszczyzna,usam-se al ternativamente as palavrasziemniaki [ziemnhaqui] oukar tofle [cartofle]. Poznań, uma das maiores cidades na Po lónia, é famosa porchamar-lhes pyry [pj-rj]. Pelo contrário, no dialeto dos MontesTatras, são grule. Cuidado quando pedirem algonorestaurante!Nemtodososempregadosde mesa, p.ex. em Lublin, vão entender bem o que significa grule.
As pantufas.Uma palavra quecausa muitas confusões.
Em Cracóvia chamam pantofle (quena minha região en-
NÃO COMPREENDO! OS LIVROS DE RYSZARD KAPUŚCIŃSKI TRADUZIDOS PARA PORTUGUÊS
tende-se como os sapatos elegantes,aomesmo tempo é uma palavra umpouco antiquada). Aqui em Lublin temos ciapy [tsjapj]. Quase ninguém de foradanossa região compreen de... Kapcie [captsje], apesar deser a versão oficial, quer di zernão um regionalismo, émais usada em Varsóvia. Com bambosze [bamboche] pode encontrar-se nos Tatras. Na região de Wielkopolska diz-se laczki [latszqui] e na Silésia lacie [latsje].
Vou lá para fora! Na minha região,paraexpressaresta fra
se, as pessoas costumam dizer idę na dwór (literalmente:
voupara o pálacio).Noentanto,emmuitas lugares,incluin doCracóvia,étotalmente aocontrário: idęna pole (literal
mente:voupara o campo).
O vestíbulo. Uma palavra muito importante na Polónia, porque é aí que as pessoasdeixam os sapatos eos casacos ao entrarem em casa (é imprescindível fazê-lo!). A versão unificada éprzedpokój [p3edpokuj] . NaSilésiapodem ou
virantryj [antrj-j],para mim, totalmente incompreensível.Os serranos chamam-lhe sień [cienh]. Ouvi também a versão przedsionek [p3edcionec]. Na minha casa dizemos sionka [cionca].
Ascalças. A versão mais usada desta palavra na Poló
nia é spodnie [spodnhe]. Na Silésia usam a palavra galoty [galot-],queemLublinsoaum poucodivertido.Nas monta nhas vestem-se portki [portqui]. Nos arredores de Cracóvia definem-nas como gacie [gatsie].Em Lublin gacie significa as cuecas enãoé uma palavramuitoelegante.
Os mal-entendidos culturais:
O savoir-vivre é o código internacional dos comporta mentos culturais, respeitado por quase todos. Outra coisa sãoos bons modos. Emcadapaíséumpouco diferente. Na Polónia tambémtemos varias “leis nãoescritas”.
Receber os convidados
NaPolónia é bem-visto recebê-los àgrande e à france sa.As mesas enchem-sede pratos edebebidas de todos os tipos. Deste modo, depois de cadaencontro,sobramquilos decomidaque os hóspedesnãoconseguiramcomer. Todas as pessoaspodemficarna nossa casa até quando quiserem.
Masé o convidadoque sentequenão pode abusarda hos pitalidade!As pessoas bem-educadas sabemtambém que émelhor atrasar-se 5 minutos para uma festa. Ao mesmo tempo, atrasar-semais de15minutos pode ofender os nos sosamigos.Sobre o quesefala à mesa?Como é habitualem todosossítios,sobre o tempo, a família,o trabalho...Otema popularíssimo éa política. Mas aquinão sepode esquecer de que cada pessoana Polónia tem as suaspróprias opini ões nesta área, por isso tenha cuidado com os julgamentos radicais.Dequese pode brincar? Ospolacosgostammuitís simo de rir-se eachoque a maiorianãotem os temas “tabu”, à excepção da religião.
A entrada e a saída
Num autocarro pode-se entrar por todas as portas.Mas lembre-sequeprimeiro as pessoassaem.Istofunciona tam
bém noutros lugares. Entramos depois dos outros saírem.
Os cavalheiros cedem a passagem às senhoras, dizendo
“porfavor”. Entrar nalgumsitioantes da mulheréconside-
radoumafalta dechá.
As relações homem-mulher
Os polacos costumambeijar a mão das mulheres .É um cumprimentoqueexpressa a consideração.Alémdisso, um homem bem-educado ajuda sempreas mulheres a transpor tar ascoisas pesadas. É normal fazê-lona rua, no comboio, nas lojas, etc. É um homem avaro? Então, nãovai gostar de queébem-visto pagar pelamulherdepoisdum encontro. Já tem a cara-metadeevai conhecer os seuspais?Noprimeiro encontrodeve oferecer-lhes algum presente: um ramos de flores,umacaixa de chocolates,etc.
Outros
Se vaicom os seus amigos a um bar, nãofiquesurpreen dido se cada um pagar só a suadespesa.Não temsemprede deixar uma gorjeta. Só se costuma fazê-lo quandoestamos satisfeitos como serviço. Omínimo énormalmente10% do valor da conta. De costume, tratamos por tu só os amigos.
Com os familiares saudamos dando-lhes três beijos na bo chechas.
Vale a pena aprender as línguas! As estrangeiras, as variantes da nossa e...as humanas como a cultura e o com portamento dos váriospaíses. Há que respeitar que todos somos diferentes, mas, para evitar <os mal-entendidos> é melhor que, pelo menos, tentemos conhecer outros costu mes.
Weronika Ślęzak 3° ano de Filologia Ibérica UMCS, Lublin
Ryszard Kapuscinskié uma lenda da reportagem mun dial e polaca. Nasceu em Pińsk (hoje Bielorússia, encontra va-se na Polónia antes da Segunda Guerra Mundial), em 1932. Durante os anos 1952-1956, estudou na Faculdadede História da Universidade de Varsóvia. Depois dos estudos, começou a trabalharcomojornalista e fezas suasprimeiras viagens: à China, ao Paquistão e ao Afeganistão, de onde enviou as suas primeiras reportagens. O sucesso começou com a viagempara o Congo em 1958 durante a guerra ci vil. A partir deste momento assuas reportagensda África, da Ásia e da América do Sul eram altamente valorizados eKapuścińskirecebeuvários prémios, incluindo o Prémio Príncipe das Astúrias (2003), Internazionale Viareggio Ver- silia(2000) e muitosoutros naPolónia,França,Estados Uni
dos , Itália, Alemanha, etc.
Muitasvezeselefoi definido como “um homem comum extraordináriosentido de informação emeio ambiente”. Ti nha uma capacidade incrível de observar e perceber as coi sasinvisíveisparaoutrose um instintoque o levava a todos esses lugares ondeas coisas importantes aconteciam.Sabia como observare analisar o ambienteformando rapidamen
te partedele. Por causa da sua neutralidade sabia valorizar objetivamente os fatos. Para ele importava mostrar o que não é observado pelo jornalismo que segue as elites polí
ticas. Cada reportagem de Kapuscinski éum combate pela dignidade, contra a indiferença.
Algumas das suas reportagens foram traduzidas para português. Todas as traduções foram feitas por Tomasz Barciński- tradutor de obrasda literatura polaca para por tuguês,para a editorabrasileira Companhia das Letras(Cia.
das Letras). Abaixovou apresentá-las, encorajando o leitor lusófono a procurar estaspublicaçõeseconhecerestefamo sorepórter.
Heban - Ébano (1998):Uma coleção de reportagens so breÁfrica. Éo registo das viagens deRyszardKapuscinski porÁfrica (entre outrosàEtiópia, à Tanzânia, àNigéria, ao Gana), de1958 até aos inícios dos anossessenta,quando es
ses países foram engolidospelofogo das várias revoluções.
Otrabalho consiste em29histórias curtas,organizadas por ordem cronológica. É um livroescritonum estilo emque a reportagem está entrelaçada com o romance, criando uma espécie de diário dumrepórter. No livrohámuitas compa raçõesentre a vida dos africanose dos europeus.
Cesarz - O Imperador (1978): Livro sobre a Etiópia e a corteimperial de HaileSelassie na época da monarquia constitucional e no momento da revolução. O autor apre sentou-omais como aficção literáriadoque reportagem. O escritornãomostra osmembrosdajunta militar comunista que derrubou a monarquia. Em vezdisso, mostra as rela ções dos ex-membros docortejo imperial (semrevelar a sua identidade,comalgumas exceções). Kapuściński reconstrói a imagemdosistema através da gente queservenopalácio.
Assuasdescrições,impassíveis,cheiasdosdetalhesaparen temente semimportância, compõem a imagem do regime, sendo ao mesmotempo a evidênciafactual,quedemonstra a sua criminalidade.
Podróże z Herodotem - Minhas viagens com Heródo- to: É um trabalho autobiográfico,publicado em 2004. Neste livro, o autor compara as suas viagens naÁsia e na Áfri ca, com as aventuras do antigo cronistaHeródoto. Quando RyszardKapuściński partiu para a suaprimeiraviagemao estrangeiro,elerecebeucomo presente a históriadeHeródo- to. Otrabalhodoantigo historiador acompanhou-odurante as viagens pela Índia, China, Ásia Menor e África. Neste livro, o famoso repórter fala sobre muitos eventos políticos ehistóricos fascinantes queele testemunhou,justapondo-os comos fatos descritos por Heródoto. Pergunta-se como a forma como viajamos, como transmitimos as mensagens e descrevemos a históriaafetaacompreensãodo mundo.
Wojna futbolowa - A Guerra do Futebol (1978):Este li vroé umaantologiaderelatos vagamenterelacionados,que falam sobre os eventos políticos nos continentes africano e americano.Aguerradofutebol do títulofoium conflito ar mado entre El Salvador e Honduras, mas consiste apenas um capítulo neste importantetrabalho.O livro deuma for
ma muito vívidamostra-nos o nascimento da independên cia nos países africanos eo processo turbulento da criação dum estado, baseadona corrupçãoe violência. Vale a pena ler porquemostra-nostambémascondiçõesdotrabalho de repórterhá algumas décadas, quando ele comunicava com o país mediante os telegramas, eque mostra quão difícil, mastambémcheiade aventuras eraestaprofissão.
Szachinszach - O xá dos xás (1982): É um ensaio não muito longo sobre a históriasangrentadoIrão.O autor dá -nos uma aula da história, que não vamos ternas nossas escolas. AssimKapuścinski explora não só a natureza da revolução, mas também a natureza do povo iraniano. No entanto,emvárioslugares o autordestacaclaramente ofato que os habitantesdestaregião sãopessoasquenateoriaena práticanão diferemmuito de nós.
Jeszcze jeden dzień życia - Mais um dia de vida: Os eventos registados da guerra civilem Angola nos últimos meses antes da independência deste país a 11 de novem
bro de 1975. Oautor observa edescreve os acontecimentos da capital, Luanda, despovoada e ameaçada pelos ataques dos intervencionistas estrangeiros, mas também a situação na frente. “Maisum dia devida”,publicado em 1976,é um livro muito pessoal. Não sobre a guerra,nãosobre aqueles quelutam de dois lados, massobre o sentimentodeperdae incerteza doquevai acontecercontigocada dia.
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ATIVIDADES DO CENTRO DE LÍNGUA
PORTUGUESA NO ANO LETIVO 2013/2014 ATIVIDADES DO CENTRO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO ANO LETIVO 2013/2014
7 de novembro de 2013
PalestradoProf. Doutor Henryk Siewierski da Univer sidade deBrasília: Amazôniana obra do Padre João Daniel, um missionário português do século XVIII. Depoisda pa lestra teve lugar a apresentação do livro do Prof. Doutor HenrykSiewierski: Livro do rio máximo doPadre JoãoDa
niel.
13 e14de novembro de 2013
Palestras da Profâ Doutora Cristiane Roscoe Bessa da Universidadede Brasília:
Teoria da tradução
A tradução-substituição e questões relacionadas.
3 de dezembro de 2013
Encontro comPietroFuhr, estudante de Direito daUni versidadede Ijuí, RioGrandedoSul,Brasil que esteveem intercâmbiona UMCS no cursodeEconomia. Proferiu uma palestracom o tema:Imersãodo jovem brasileiro na cultura e no trabalho.
18 de dezembro de 2013
Encontro de Nataldos estudantes e professores da Filo
logia Ibérica daUMCS.
18 de novembro a 20 de dezembro de 2013
Ciclo de cincopalestras dedicadas à língua e à cultura galegasproferidas por BriaxisFernándezMéndez.
14 de janeiro
Palestrado Prof. Doutor José CarlosLázaro daSilva Fi lho da UniversidadeFederal doCeará (UFC): Administra ção e Logística no Brasil.
Palestra da Dra. Magdalena Szymańska Lázaro da Sil va, professorado Departamento de Letras Estrangeiras da UFC: Intercâmbio - ApresentaçãodaUFC.
27 de fevereiro
Visita de Sua Excelência a Embaixadora de Portugal na Polónia, Dra. Maria Amélia Paiva. Do programa davisita constou:
- Prorrogação doprotocolo de cooperação entre aUni versidade Maria Curie-Skłodowska e o Instituto Camões para os próximosanos.
- Assinatura deum protocolodecooperaçãoentreaUni versidade Maria Curie-Skłodowska, a Embaixada dePortu
gal na Polónia e a empresa JerónimoMartins, representada peloDr. Nuno Dias. Esteprotocoloestabelece as condições de concessão deuma bolsa de estudoparao melhor estu
danteda filologia portuguesa na UMCS.
- Inauguração da exposiçãoA BDIbérica - UmaPenín sulaaosQuadradinhos. A exposição foi uma iniciativado Instituto Camõese doInstituto Cervantes. Em Lublin este certame fez partedovasto programa decomemorações dos 70° aniversáriodaUMCS.
- Visita ao Centro de LínguaPortuguesa/Camões com um encontroinformalcom os estudantes de filologia por tuguesa.
- ReuniãocomocorpodocentedoDepartamentodeEs tudosPortugueses.
25 e26de março
Palestrasda Profâ Doutora Mariada NatividadePiresda
EscolaSuperior deEducaçãode Castelo Branco:
Literatura Infantil e Juvenil e Educação Intercultural e Algunsexemplos do artesanatoportuguês.
28 de março
Na Escola Secundária n ° 4 Stefania Sempołowska em Lublinteve lugaro 1° ConcursoInterescolar sobre Conhe cimentoda América Latina, sobopatrocínio da Embaixada do México naPolónia, oCentro de LínguaPortuguesa/Ca- mões e Escola deLíngua Espanhola Villablanca deLublin.
1 de abril
Palestra do Prof. Doutor Paulo Osório, presidente do Departamento de Letras da Universidade da Beira Interior (Covilhã,Portugal): Algumas Curiosidades da LínguaPor tuguesa: do passado ao presente.
3 e4deabril de 2014
3° Congresso dos Estudantes Lusitanistas da Polónia:
Unidade e Diversidade no MundoLusófono.
A palestra de abertura: Unidadee Diversidade da Lín gua Portuguesa noMundo foiproferida peloProf. Doutor Paulo Osório da Universidade da Beira Interior. Depois seguiram-se 21 comunicações divididas em cinco sessões temáticas:Linguística,História e Cultura (Brasil),Línguae Cultura (Timor-Leste), Literatura,História e Cultura (Países Lusófonos)proferidas por estudantes dos maiores centros universitários de ensinodo português da Polónia (Cracóvia, Poznań, Varsóvia, Wrocław eLublin)
8 de abril
Palestra doDr. PedroBalaus Custódio do Instituto Po litécnico de Coimbra:TrêsVozes da Literatura Portuguesa Contemporânea.
30 de maio
Palestra do Prof. Doutor Bento Sitoe da Universidade Eduardo Mondlane de Maputo: Literatura em línguas afri canas:(n)umcaldeirãocultural.
4 de junho
Apresentação audio-visual por Miguel Santos, estagiário daUniversidade Aberta, deLisboa, no auditório do Centro Camões,sobotemaSantoAntónio ea suaHerança.
23a27 de junho
A Profâ Doutora HannaJakubowicz BatoréodaUniver sidade Aberta, Lisboa, esteve na UMCS, noDepartamento deEstudosPortugueses e no Centro de Língua Portuguesa/
Camões, no âmbitodo Programa Erasmus 2013/2014. O pro grama da suaestadiaabrangeu apoiotutorial e orientação científica ao nível de mestrado e do pós-doutoramento na área da Linguística Portuguesa, especialmente no que diz respeito ao Português Língua Não-Materna e à Linguística Cognitiva.
CONCURSOS:
Concurso de fotografia: Portugal a preto e branco (77 fotografias de27autores)
1°lugar: Michalina Kowol-Expo, Lizbona 2°lugar: Jerzy Durczak -Most nad Douro 3°lugar: Joanna Dudek - Lisboa
Mençõeshonrosas:
Ana Filipa Scarpa - Ponte de Lima
João Santiago -O Douro na Régua
KatarzynaJanowska - Małyczłowiek i morze Karolina Szwaj- OPescador
Concursode ortografia: (14 participantes)
1° lugar: MagdalenaIdeć - Universidade Jagellónicade Cracóvia
2°lugar: Zyta Padała -UniversidadeMarieCurie Sklo- dowska deLublin
3° lugar: Zofia Gajos- UniversidadeMarieCurie Sklo- dowska deLublin
Menções honrosas:
DominikaPezda - Universidade Jagellónica de Cracóvia Natalia Trzebuniak - Universidade Marie CurieSklodo- wskade Lublin
JoannaJózefowska - Universidade Adam Mickiewicz de Poznań
Concurso de conhecimentos de cultura geral- Portugal e Brasil: (42 alunos das escolas secundárias e básicas do3 ° ciclo daregião de Lublin)
Escolas básicas do 3 ° ciclo
1° lugar: Łukasz Wituch (EB n ° 1 União Europeia, Zamość)(39pontos)
2°lugar: Jan Mazurek(EB n ° 10 JanTwardowski, Lublin) (38,5 pontos)
3° lugar: Olgierd Sobieraj (EBn ° 10JanTwardowski, Lu
blin) (36 pkt.)
Escolassecundárias
1°lugar: Marek Wawrzyszko (Liceun ° 1 W. Broniewski, Świdnik) (45pontos)
2° lugar: Michał Smoła (Liceu n ° 1 União Europeia, Zamość)(40,5pontos)
3°lugar: Igor Adamczyk (Liceu n ° 1 União Europeia, Zamość)(40pontos) ;
MarekGawrysiak(Liceu n °1 A.J.Czartoryski, Puławy) (40pontos)
Concursode tradução(42participantes) 1° lugar: Katarzyna Kłodnicka
2°lugar:JarosławKobyłko 3°lugar: MagdalenaIdeć
Concurso de apresentações multimédia: Portugal-ter ra de navegadores (186 apresentações de alunos doensino básicodo 3 ° ciclo e secundário de todaa Polónia)
1° lugar: Jan Jurasz (Agrupamento de Escolas Anna z Działyńskich-Potocka, PosadaGórna)
2° lugar: Kamil Nowacki (Agrupamento de Escolas de Krasnopol)
3° lugar: Klaudia Orzechowska (EB 3 ° ciclo n ° 16Fry derykChopin,Lublin)
Mençãohonrosa: Michał Dolina (Liceu ONU,Biłgoraj)
3° Congresso dos Estudantes Lusitanistas da Polónia Unidade e Diversidade no Mundo Lusófono
Fotografia: Jorge Branco
Património mundial de origem portuguesa
AnnaTylec/Katarzyna Janowska UMCS, Lublin
Há cercade500 anos os portugueses começaram a sua expansão marítima. Marcaram a sua presençano mundo inteiro, também em lugares que não parecemtão evidentes.
Na lista da UNESCOpodemosencontrar40 sítios deorigem e influênciaportuguesa,16 deles ficam no território de Por tugal e os restantes estão espalhados por vários continentes.
Observando o mapa seguinte podemos notar queos sítios mencionados ficam na zona costeira, o quetestemunhao caráter marítimo da expansãoportuguesa.
Na América do Sul podemos destacar nove lugares no Brasil e umno Uruguai.Entre eles há oCentro histórico de São Luís que se situa no estado de Maranhão.É a única cidadeno Brasil fundada pelos franceses, em1612, depois invadida pelos holandeses e finalmenteadministradapelos portugueses. Umasdas marcas mais significantes da pre
sença deles são várioselementos arquitetónicos como asja nelas arredondadasnotopoouosedifíciosdecoradoscom azulejos.Atéhoje mantiveram-seexemplosdas típicas casas coloniais do século XVII.
Outrovestígioencontra-sena cidade deOlinda que fica no estado de Pernambuco, a norte deRecife. Naaltura da exploração da cana-de-açúcar foi a capital do estado mas depois de ser destruída durante ainvasãoholandesa no sé
culo XVIIperdeu a sua importâncianaregião.O rasto mais significante é o Convento de São Francisco reconstruído pelos portugueses no sec. XVIII. O seu interior apresenta o estilo barrocoe o claustrofoidecorado com azulejos que mostram as cenas de vida dos santos.
Otestemunho seguinte é a Praçade São Franciscoloca lizada nocentro histórico deSãoCristóvão,noleste do Bra sil. A cidade foi fundadaem 1590 eéconsideradaaquarta cidade mais antiga nopaís. A praça representaumlegado do período da União Ibérica por apresentarinfluênciastan to portuguesascomo espanholas, contribuindo para uma imensa riqueza histórica. No local referido é possível apre
ciaropalácio do período colonial onde funcionao Museu Histórico;etambém prédios das ordens religiosas,comoo Museu deArte Sacra e oConvento de São Francisco.Todos eles continuampraticamente com a mesma feição de quan do fundados.
A cidade de São Salvador da Baía émaisuma das marcas
da influênciaportuguesa. Foi fundada em 1549 e localiza-se no Estado da Baía, sendoaprimeiracapital do Brasil.A Igre ja de São Francisco, de1703,é oexemplo maisapreciável da presença dos portugueses. Aigreja apresenta o maiorcon junto de azulejos portugueses do mundo e ostentaum dos melhores exemplos do repertório ornamental barroco no interior onde asparedes são cobertas inteiramentede ouro.
Na cidade foicriadotambémoprimeiro mercado negreiro do Novo Mundo que tevelugar noLargo doPelourinho.
Na lista de Património Mundialencontra-se também o CentroHistórico de Goiás.A cidade, fundada pelos portu gueses, localiza-se na região central brasileira. No século XVIII iniciou-se aintensivaextração do ouro nessa região queprovocou o desenvolvimento da cidade. Este facto de terminou o estabelecimentodo governolocal. Por isso oPa láciodos Governadores foi construído eserviu como resi dência paragovernadoresepaláciode despachos.Além da arquiteturacivilhá alguns edifíciosreligiososinteressantes como a Igreja da Boa MorteouIgreja de Sant'Ana.
O vestígio seguinte pode encontrar-se no Centro Histó rico de Diamantina, no Estadode Minas Gerais, a norte de Belo Horizonte. Foi fundada naaltura doinício da buscado ouro nestaregião(século XVI),mas depois foram descober tasaqui também jazidas dediamantes. Entre osprincipais monumentosquecompõem o centro históricode Diaman
tina, destacam-seoMuseu do Diamante com a Biblioteca e a Igreja deNossaSenhora do Carmo que foi mandada construir pelo contratador de diamantes João Fernandesde Oliveira ou mais precisamente pela mulher dele,Chicada Silva,ex-escrava e fundadora de váriosedifícios na cidade.
O Santuário de Bom Jesus de Matosinhos também foi inscrito na lista daUNESCO. A basílica fica em Congonhas, perto de Ouro Preto, no estado deMinasGerais. Foi cons truída na segunda metade do século XVIII. Uma lenda diz que o santuário foi fundado por causadumcolono portu guês, Feliciano Mendes, que curado duma doençagrevede dicou estelugar, o monte doMaranhão, ao Senhor do Bom Jesus de Matosinhos. Em frente do santuárioencontram-se dozeestátuasdosprofetas(do projeto do famoso arquiteto Aleijadinho)e seis capelas com as cenas da Paixãode Cris
to,que se parecem com as dos santuários do BomJesusde Matosinhos ou de Braga.
Outro lugar onde osportuguesesdeixaramas suas mar cas éacidade de OuroPreto,situada no estado de Minas Gerais, asulde Belo Horizonte.Foicriada no século XVII, quando foram descobertas jazidas de ouronesta região. A cidade distingue-se das outras povoações pela sua arquite tura idêntica à datípica das regiões portuguesas do Minhoe AltoDouro. Como o exemplo pode servir a Igreja de Nossa Senhora do Pilar. As paredes dointerior são cobertaspor quase400 quilosdeouro. Ao ladoda igreja encontra-se o pequenomuseu onde estãoem exibição alfaias e pratarias de grande qualidade.
Um dos centros urbanos maissignificantes para a cul
tura ea política brasileiraesimultaneamente criadas pelos portugueses é o Rio deJaneiro.A cidade foi fundada em
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Património mundial de origem portuguesa Património mundial de origem portuguesa
1565 para ocupare defender a Baía de Guanabara. A antiga capital do Brasil é a primeira cidadeque recebeuo título dePaisagem Cultural Urbana doPatrimónio Mundial. Os locaisda cidadevalorizados com o título da UNESCO são entre outros o Pão de Açúcar,o Corcovado, a Floresta da Tijucaea famosa praia Copacabana. Esta paisagem cultural éo fruto de associação dos aspectos naturais com asinflu ências humanas.
Os portugueseschegaramtambémaos terrenos do atu
alUruguai.ColóniadelSacramento tem origem na antiga cidade deColóniado Santíssimo Sacramento fundada em 1680 por Manuel Lobo, Governador daCapitania Realdo Rio deJaneiro.Éalique se encontram atrações de origem portuguesa comooFarol de 1857,asruínas do Convento de San Francisco,consideradaumadas construções mais anti gas dacidade, datada de 1683. Um dos símbolosdaregiãoé abelaCalle de los Suspiros, de onde,segundoalenda local, épossível escutar um som como odeum suspiro nos dias de ventomaisforte.
Além da Américado Sul, os portugueses deixaram tam
bém as suas marcasna África. É claro que osvestígiosmais evidentes podem ser achadosnos países que antigamente foram colónias portuguesas. Aliás, na lista da UNESCO encontram-se outros lugares, também influenciados pela presença dosportugueses.
Um dos exemplos é a cidadede Mazagão, atual ElJa- dida,localizadaemMarrocos,asuldeCasablanca.Funda da nos inícios do século XVI como entrepostocomercial e militar na rota marítima para a Índia, manteve-se na posse da coroa portuguesa até1769. Mazagão é um importante exemplo dointercâmbio dasculturas europeias emarroqui na. Um dostestemunhos da atividade dos portuguesesé o primitivo castelo e a fortaleza com o hospital, opalácio do governador, osarmazéns, a cisterna manuelina, o chafarize a IgrejaMatriz de Nossa Senhora da Assunção.São também visíveis alguns vestígiosdo antigo PaláciodosGovernado resno edifício da atual mesquita.
Em Cabo Verdemanteve-seoutra marca: a Cidade Ve
lha, a primeira capital deste país que foi fundada em 1462, como cidade da Ribeira Grande.A cidade desenvolve-se rapidamente graças à localização do arquipélago cabo- -verdiano que ganhouum grandevalor estratégico, como o ponto de apoio nas rotas marítimasparaas Américas e para o sul de África. A cidade écoroada pela Fortaleza de São Filipe com uma cisterna de água earmazém de armas, que foiconstruídaem resultado dosataques à cidadede1578 e de 1585, de Sir Francis Drake, o corsário inglês. Ficaaqui a Igrejade Nossa Senhora do Rosário, a únicaque se manteve e quecontinuaabertaaoculto.
Podemos encontrar outros vestígiosportuguesesna Ilha de Goréeque selocaliza no território do Senegal, atrês qui
lómetros do porto em Dakar. No século XV os portugueses fundaram aqui uma feitoria que, com a localização estra
tégicada ilha, deu origemao desenvolvimento do maior centro de comércio de escravos do continente africano. Ao longo de vários séculos o lugar foi conquistado e adminis-
trado pelos holandeses, ingleses e franceses. A mais impor
tantemarca do tráfico dos escravos é aCasa dos Escravos por onde passaram milharesde pessoas.
A Ilha de James também esconde as marcas da presença dos portugueses.Situa-se na foz do rio Gâmbia, naGâmbia.
Foi centro de comércio de ouro emarfim,e depois também de escravos, iniciado pelosárabes,nosséculos IX e X. Os portuguesesherdaram-noainda no século XVtornadoeste lugarumdosmaisimportantes pontos dotráfico negreiro.
Desde oséculo XVIIIencontrou-sesob a dominação britâ nica.
O último lugar na costaafricana ocidental que foiins crito nalistado Património Mundial etestemunha a ativi dade portuguesa nesse continente são os fortes e castelos de Volta em Accra, cidade que se situa na costa do Gana.
No fim do século XV os portugueses fundaram a primeira feitoria - o Castelo de SãoJorge. Logo que encontraram o ouro na costa surgiram também os ingleses, holandeses e suecosqueconstruíram osnovos fortes, nototal mais de 60.
Em pouco tempo apareceu neste lugar tambémo comércio dosescravos.Vestígios disso é o Castelode Cape Coast de origeminglesa.
Passando para a costa oriental da África encontram-se quatrolugares onde apresença portuguesa deixou as suas marcas. Omais evidenteé a Ilha de Moçambique que foi, nos séculosXV eXVI, um importante pontoestratégico na rotacomercial portuguesapara aÍndia e também nocomér cio de exportação de escravos para o Brasil. Da presença portuguesa na Ilha de Moçambique testemunha a Forta leza de S. Sebastião, concluída no fim do séc. XVI aolado encontra-setambém a cisterna e aantigaIgrejade S. Sebas tião.Na extremidade norte da ilha deMoçambique situa-se aedificação colonial mais antiga de toda a costa do Oceano Índico - a Capela de Nossa Senhora doBaluarteque étida como único exemplar de arquitetura manuelina existente em Moçambique.
Osportugueses chegaram também à Tanzâniao que po demprovar as ruínas de KilwaKisiwani e deSongo Mnara quese localizamnas duas pequenasilhas de mesmo nome na costasueste da atual Tanzânia. O porto árabe na ilha Ki- lwaKiksiwanifoitomado porVasco da Gamaem 1502 du
rante a suasegunda viagem à índia. Logodepois começou a construção da primeirafortificação na zonaorientalafri cana,fortaleza depedra e cal eos outrosedifícios que hoje estão em ruínas. Em1512 os portugueses abandonaramas ilhas, em lugardelesregressaram os árabes e povosswahili.
Épreciso sublinhar quedurantealgunsséculos foi oimpor tantecentrode trocas comerciais entrea Europa,a África e oOriente.
O vestígio seguinte que vale a pena destacar é o Forte Jesus de Mombaça, que fica na costa doQuénia. A história de fortaleza começoucoma chegada deVasco da Gama em 1498 durante a sua viagem marítima à India.Logo depois a Cidade deMombaça tornou-se umimportanteponto de escala na rota comercialentre o Estado da Índia e a África Oriental. Por issooreiD.JoãoIIIdecidiufundarumaforta
leza que defendesseestelugardesalteadores. O forte é con sideradocomooexemplo da arquitetura militarportuguesa doséculoXVI mais significativo na costaorientalafricana.
A cidade-fortaleza de Fasil Ghebbi é o outro exemplo das influênciasportuguesas no mundo. Acidadesitua-sena regiãode Gonder, a antigacapitaldaEtiópia.É um conjunto decastelos,palácios,igrejas e outrosedifíciosinfluenciados por várias culturas: etíope, indiana, grega ou portuguesa.
Esta última foimarcada no Palácio do Rei Fasiledes, uma das mais espetaculares construções do conjunto, fundado no séc. XVII, entãona altura dos ataques muçulmanos à co
munidadecristã que habitava olugar.
A presença dos portugueses destacou-se também na Ásia. Pode-se sublinhar seis sítios onde sãovisíveis as in
fluências desta cultura. O primeirodelesé o forteportuguês da Ilha de Bahrein, que é um pequeno estado insular do golfo Pérsico, omaior monumento deManama oForte de Bahrein,outambémconhecidocomoo Forte Português.Foi construído por ordem de D. Manuel I noséculo XVI, reino bastante ricoprincipalmente em pérolas, mas tambémum importante local detrocas comerciais. Embora seja umafor tificaçãoárabemas mantémtambém os traçosportugueses.
As marcas portuguesas encontram-se também na cida de de Goalocalizada a meio da costa ocidental da Índia. O património construído na Velha Goa é o encontro de duas culturas: a europeia e a asiática. Arquitetura - ocidental,e decoração asiática. Do património edificado na cidade de Goa durante a presença portuguesa permanece essencial
mente a arquiteturareligiosa. Um dosedifícios religiosos é aSéde Goa, cujaconstruçãofoiinspirada na SéCatedralde Portalegre.A Igrejado Bom Jesus é umdosmelhoresexem plos da arquiteturabarrocadopaís. No seu interior repou sa o corpo de SãoFranciscoXavier,um missionário cristão, considerado oApóstolodoOriente e em 1946, tornou-sea primeirabasílica daÍndia.
AcidadevelhadeGalle eas suas fortificações apresen tam outros vestígios da presença portuguesa. O Forte de Galle localiza-se na baíadeGalle, na costa sudoeste da ilha de Ceilão, atual Sri Lanka.Os primeiros europeus a visita rem o Sri Lanka foram os portugueses: Dom Lourenço de Almeida chegou à ilha em 1505. Fundada no século XVI pelos portugueses,Gallealcançou o augedoseudesenvol vimentono século XVIII. Construíram uma muralha e três bastiões para defendera península. Em 1640 a cidade caiu nas mãos de holandesesque refizeramas muralhas e toda a cidade noestiloholandês. Galle continuasendo omelhor exemplo de uma cidadefortificada construídapelos euro peusnoSul e noSudeste Asiático.
Os portugueseschegaramtambém à Malásia. A costa de Malaca foi durante 600anos um importante centro comer cial da Ásia,e 84línguas diferentes eramfaladas na capi tal da Malásia refletindo a variedade depessoas e culturas, tambémpresente na paisagemurbana.Em1511, Afonso de Albuquerqueconquistou-aeassim Malacaestevesobdomí nio português entre1511 e 1641.
O último local onde a presença portuguesa deixou as
suasmarcas é o Centro Histórico de Macau quese localiza no sul da China. Foi escala das embarcações portuguesas durante as viagens ao Japão e primeiro entreposto comer cial europeu na China. Os portugueses receberamo privi
légio de aí se estabelecerem principalmentepara defender acidade de salteadores epiratas. Em Macau são visíveis as influências europeias que se cruzam com as chinesas. Eas
simpodemos observar nas paredes de edifíciosos azulejos com osmotivos de dragões. Seguindo ainda osrelatos tra dicionais, LuísVazdeCamõespermaneceu em Macauentre 1557 e 1559, período durante o qual, na designada “Gruta de Camões”, se inspirou para escrever excertos da sua fa mosa obra OsLusíadas.
O Património Mundial de Origem Portuguesa está em relação com a enormediversidadecultural, unida pelos por tugueses.Com estetrabalhomostrámosqueosportugueses criaramlaços e raízes bastante fortes entre os povos pelos quaispassaram e ainda se podem observaressasligações.
Anna Tylec e Katarzyna Janowska - estudantes do 1°
ano do mestrado em Estudos Portugueses na UMCS. No quarto semestre dos estudos de licenciatura tiveramopor tunidadeestudar na UniversidadedoPortoatravésdo Pro
grama Erasmus. Interessam-se pela cultura e história dos países da CPLP e pela expansão da língua portuguesa no mundo.
Bibliografia:
1.http://whc.unesco.org/en/interactive-map/ - 17.11.2014.
2. Azevedo, C. (1960), A Fortaleza de Jesus e os Portugue
ses em Mombaça- A Fortaleza de Jesus, Lisboa, pp. 79-127.
3. Bethecourt, F., Curto, D., (eds.) (2010), A Expansão MarítimaPortuguesa,1400-1800,Edições 70, Lisboa.
4. Dias, P. (2008), Arte de Portugal no Mundo. África Oriental e Golfo Pérsico, Lisboa.
5. Kieniewicz, J. (2008), Ekspansja.Kolonializm.Cywili zacja, DiG,Warszawa.
6. Maik, W. (sob a dir.)(1999) ABC Świat. Afryka II, WydawnictwoKurpisz,Poznań.
7. Silva, A. Correia e(1998), Espaços Urbanos de Cabo Verde,otempo das cidades-porto,Lisboa.
EM BUSCA DO AMOR PERDIDO - UMA PERSPETIVA SUBJETIVA SOBRE A BRASILIDADE EM BUSCA DO AMOR PERDIDO - UMA PERSPETIVA SUBJETIVA SOBRE A BRASILIDADE
Bartosz Suchecki UMCS, Lublin
A minhaapresentaçãotrata, comoo assunto diz, dami nhaperspetiva subjetivasobre a brasilidade. Alguns devo cês me conhecem,outros não. Dado que vai ser uma perspetiva pessoal, no início, alguns factos básicos sobre mim.
Cá, na Polónia, chamome Bartek. No Brasil conhecido na maioriadasvezes como: oBarczi. Soualunodoterceiroano de estudos portugueses. Este lugar, o Instituto Camões é a minha casa. Claro, no sentido metafórico. Por exemplo, nunca dormi aqui. Recentemente, eu passei setemeses no Brasil. Em Lublin estudo sobretudo as matérias portugue
sas. Então: porquê oBrasil?
Não é poracaso. Há doisanos eu fiz intercâmbio, através do Programa Erasmus, em Lisboa.Essaviagem abriu oape titepara conhecermais, explorar outras regiões lusófonas.
Mas,antes daestada, os meus motivosnãoeram palpáveis, tangíveis. Nãotinhaobjetivos declarados. Só queriaaproxi mar-me defenómenos novos,do mundo desconhecido que nãosabiadesignar.Essaindeterminação tornouse para mim ovalor principaldaviagem.Alémdisso,eu vi “Tieta”, uma telenovela da rede Globo mostrando o Brasil rural. Nessa época,estasériefoi muito estranha para mim. Naverdade, aindaé estranha, mas também intrigante. Fiqueiinteressa dopelopaís distante.
Maisoumenos cem anos antes disso, nas primeiras dé cadas do século XX, o escritor francês Marcel Proustpro
curava, aindanoleito demorte,otempoperdido. O século inteiro trouxeummontão de novidades,mudanças sociais epolíticasaoredordo mundo. Nomundo lusófono, os afri canos,depoisdeteremconquistado a independência, tenta vam definir atodo ocusto a angolanidade ea moçambica- nidade.Asdisputassobre a responsabilidade por propagar osvalorestípicos continuam até hoje. Muitos portugueses, acostumados à exaltação daportugalidadeno período sala zarista, foram expulsos do paíspela crise. Hoje, no estran
geiro sentemsaudades donacional.
Hoje, quero falar da brasilidade. Muitos autores brasi
leiros empenharamse em desmascarar a essência da identi
dadebrasileira. As análises políticas e sociais complexasde, porexemplo,Euclides da Cunha, Manoel Bomfim,Oliveira Viana, SérgioBuarquedeHollandaou Gilberto Freyre, en
tre muitos outros pensadores, tratam de questões como o atrasoe amodernidade do país, o papel das elites intelec tuais noprocesso de formação da nação, as relações inter- raciais, etc.
Éóbvio queeunãosoupensador. Não tenhocompetên cias, nem tempo para desenvolveresse assuntono sentido académico. Sóquero falar sobreosfactoscuriososda minha perspetiva. Queria chamar a vossa atençãoparaos eventos e fenómenos queme surpreenderam de alguma forma no Brasil.
Osbrasileiros,nodecorrerdecemanos, passaramdesde o fim doImpério, pela República Velha, Era Vargas, Período Populista eRegimeMilitar,atéà Nova República. Hoje,em 2014,no ano daCopa doMundodefutebol - a modalidade
queeles adoram -manifestamsecontra... a organização da competição nopaístropical. Parece que a paixão pelo fute
bole o carnaval,geralmenteaclamados osfundamentosda brasilidade, não chega para se reconciliarem como quoti diano, bastante desanimadorparamuitos deles.
A Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos são os even tos esperados portodo omundo. Desta vez,especialmente pelos brasileiros. O povo tinha muitas esperanças ligadas à organização dos eventos. Eram, na maioria, as expetati vas sociais: da melhoria do espaço público, infraestruturas, transporteurbano. Parece que muitasdelasnão sevão cum prirpor causa da má governação.Hoje,gostaria de me con centrarnesses problemas, óbviosoumenosóbvios.Começo comoóbvio.
No caminhodeTieta
Chegueiao Brasil em julho. O meudestino foi PortoAle gre,a capitaldo Rio GrandedoSul. Um factocurioso:apri meiracoisa que compreifoiodisco vinil da trilha sonorade
“Tieta”. Adorei. Por outrolado, aprimeira coisa quenotei nas ruasforam as prostitutas espalhadas pela cidade. Infe
lizmente, nãotireifotos.Nestemomento, no ano da Copa, nopaísfalasebastantesobreo problemada prostituição en
tre as menores.Eu queriatocar em outro temarelacionado comasexualidade, ofenómeno maisabrangente,conhecido por umagrande partedasociedade brasileira: a culturama chista.
Recentemente,umajornalista brasileira, NanaQueiroz, organizou em redes sociais uma iniciativa“Não mereço ser estuprada”.Em resposta, elarecebeuofensas e até ameaças pelomesmomeiodecomunicação.Issonão é surpreenden te. Na internet,osidiotasdiárioselevamo seuidiotismo ao nível inédito por causa dorelativo anonimato. O que é sur preendenteouaindachocantesão osresultados da pesquisa do IPEA divulgados noprogramaFantástico da Globones sa ocasião. Segundo a investigação,a maioria dos brasilei ros acha que as mulheres são responsáveis por seremataca das sexualmente.Entre3800pessoasentrevistadas em todo o país, 65% disseram que as mulheres que usam aroupa que mostra ocorpomerecemseratacadas.Aindamaisestranho é que 66% dos inquiridosnesta pesquisa eram mulheres.Se gundo outros dados a que os investigadores tiveram aces so destacaseo número depessoas estupradasnoBrasilpor ano: por volta de500 mil.
Esses são exemplosgraves,mas a influênciado machis mosobreo comportamento dos brasileiros é visíveltambém duranteofamosoCarnaval.Durante afolia desteano,mui tasmulheresforam vítimas deabordagenscriminosas,sen doagarradas,apalpadas e beijadas à força.
Algunsrelatoscolecionados pelaAgência Brasil emmar
çono Rio deJaneiro:
O cara chegou e me deu uma chave de braço [técnica de imobilização no pescoço]. Não tive como sair e ele me beijou.
Se passar sozinha,os caras passam a mão,tentamenfiar odedo(navagina), beijar,isso é umfato.
Os caras não aceitam um não. Forçam a barra, usam a força,eaínão tem jeitopara te deixarem em paz.
Asecretária executiva de Políticaspara as Mulheres da Presidência daRepública,LourdesMariaBandeira, avalia:
Há avanços em uma sériededimensõesdavida, somos maioria nas universidades,há expansão das áreas de atu
ação e de decisão, mas persiste um repertório de práticas violentas.
Ao colocaruma saiacurta ouuma roupa alegre,ela não é respeitada. Passa a ser vista em uma condição de vulga
ridade, de mulher fácil, de objeto e a partir disso deriva a violência.
Elasublinhou também opapelda “representação de mu lheres em condições deobjetosexual na mídia”.
A mídia -corrompem a sociedadeousó refletem osseus desejos e satisfazemnos? É uma questão polémica e não faz parte desta apresentação, mas o sexualismo nos média desperta o interesse.O facto é que nos média brasileiros, à partedo sexo, mostrase muita negatividade. Mas não pode ser de outrojeito,visto queessa negatividade enche a vida demuitaspessoas.O povo, geralmente, nãoconfianasauto ridades.Porquê?
Existem muitasrazões.Doisexemplosrápidos.
Primeiro:a Chacina da Candelária. Neste episódio de 1993,oito adolescentes,moradores derua,de 11 a 19anos, foramassassinadosnocentrodo RiodeJaneiro por policiais militares.Sim,por policiaismilitares.Sem entrar em porme
nores: no processo de julgamento, três pessoasresponsáveis foramcondenadasa 309, 243 e209anosde prisão.Contudo, hoje,20 anosdepois, os três permanecem em liberdade. Ina
creditável,nãoé?
Segundo:três anos depois, em 1996, no estado do Pará, no nortedo Brasil, 19pessoas semterra (istoé, trabalhadores rurais quenão possuem a terra em queviveme trabalham) forammortasnumaaçãodapolícia. De novo, da polícia. Os lavradores marcharamemprotesto contra o atraso na de sapropriação de terras e obstruíram arodovia.Os policiais foramautorizados a atirar. 10trabalhadoresforamexecuta dos à queima roupa. Nalei penalbrasileira, nãoépossível punirumgrupo,pois a conduta precisa deserindividuali zada.Então, os policiais permanecem impunes. Sóem 2012, o coronel e omajor (os responsáveispela operação) foram presos e condenadosa228 e 158anos dereclusãopelo mas
sacre.
É impressionante e, ao mesmotempo,chocante. Há mui to mais casos assim. Se vocês quiserem,podem ler na inter net, porquesãoosproblemas complexos.
Consequências? Sobre casosúnicos esquecese, mas não se pode fugirdosentimento geral da impunidade presente na sociedade. Portanto, o povo desconfia das instituições públicas - a polícia, tribunais, políticos.
Em casos comoesses não é necessária a narração. Já os números contama história. As estatísticas sãoimplacáveis e nãoestãoa favordoBrasil.Entre 1980e 2010 opaís regis
trou 1,09 milhão de homicídios. Isso significa quea média anual nesse período chegou ao nível superior do número
de mortos nos conflitos da Chechênia e da guerra civil de Angola. Desde1980 até 2003 as taxas dehomicídio cresce ram constantemente. Passou de 11,7homicídios em 100 mil habitantesem1980para26,2 em 2010. A violênciaincide de forma muito maisintensaentre apopulaçãonegra.
À sombra das garotas de Ipanema
Algumas meses depois de Porto Alegre, visitei o Rio de Janeiro. Lá, além das praias de Ipanema e Copacabana, encontrei um problema que é comumàs maiores cidades brasileiras. Os mendigos, semteto, semabrigo, moradores derua -têm muitos nomes. Segundo os dados oficiais, há maisque 5 mil moradoresde rua na cidadedoRio e quase 15 mil em São Paulo. Visto que a Copa do Mundo está a chegar,aprefeitura do Riopretendecoibir“aprática depe quenos delitos” entreos semabrigo. O que issosignificana realidade?Significa que a ilustração sensual da Garota de Ipanema da música de Tom Jobim e Vinícius de Moraes étrocada pela imagem dos agentes daprefeiturarecolhen do os semteto em vans.
Durante a ação mais recente nosbairrosdeCopacabana e Leme,nazona sul da cidade,osagentesdaprefeiturae po liciais militarestinhamcomo focoprincipal orecolhimento de moradores de rua. O secretário municipal do Governo, Rodrigo Bethlem, dizqueo morador deruasóé recolhido, se ele quiser. A Agência Brasil acompanhou a ação de fe
vereiro deste anoe verificouque alguns moradores foram encaminhadosparaavan da prefeitura, para serem levados à delegacia e depoisaoabrigo, mesmosemquerer ajuda das autoridades.Naimprensaportuguesa encontrei relatos ain
da mais curiosos sobre os semteto levados à força 10ou 15 quilómetros para ládazona turística ou sobre as substân ciasquímicas postas no passeio para impedirossemabrigo dedormiremno chão.
Para além disso,o Riocom o Maracanã,o estádiodafinal da Copa doMundoem julho,éameca dofutebol.Segundo o jornalistainglês Tim Vickery,quemorano Brasil háquase 20 anos,o futeboléummicrocosmose o modo de abordar o jogo revelafactosinteressantessobreasociedade. No caso do Brasil, ele notou que os torcedores apoiam o seu clube quandoeleganha,mas a maioria deles nãoassiste aos jogos quando a equipa perde.Isto, elediz, refleteumaautoestima baixa do país. Explica essa maneira de se comportar pela tentativa de evitar a humilhação, um conceito muito forte na sociedade brasileira.Fiqueicomamesmaimpressãoque Vickery.MuitosdosmeusamigosbrasileiroschamamaPo lónia, umpaís “do primeiromundo”. Isso pareceengraça do para mim, acostumado a queixas constantes dos meus compatriotas que vão ao estrangeiro embuscadetrabalho.
Mostra tambémqueo país tem muita potencialidade, mas os seus habitantes ainda se sentem inferiores e atrasados emcomparaçãocomaEuropa.
O amorredescoberto
Passei o último mês da minha estada na América do Sul na maior cidade do continente, São Paulo. É normal queuma cidade deste tamanhotenha suas peculiaridades.
Eu,porém,gostaria de usar SãoPaulopara generalizarum
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EM BUSCA DO AMOR PERDIDO - UMA PERSPETIVA SUBJETIVA SOBRE A BRASILIDADE
pouco sobre oBrasil. A capital paulistafoi provavelmente o maior palcodasmanifestações de junho 2013 espalhadas portodoopaís. O motivo oficial dosprotestosfoioaumen todopreço dos bilhetes detransportecoletivo.Talvez fosse umpretexto para expressar a indignaçãogeral. O sentido de oportunidade provocado pela Copa das Confederações e a atençãodomundodeixaram exercerpressãosobreo gover
no. Este ano, aconteceram protestos demenorescala contra a organização da Copa.
Nos últimos meses, nasceu também um fenómeno dos chamados rolezinhos, isto é, encontros de centenas de jo
vens da periferia em shopping centres. Os encontros são marcados por meio de redes sociais e interpretados pelos sociólogos como uma manifestação dadesigualdade social e racial no país. Da desigualdade que eunotei já no dia da grevegeral em PortoAlegre. Da desigualdadesimbolizada pelos semabrigo que ocuparamnesse dia as portasde ban
cos, lugares que ao longoda semana sãopontos de encontro da elite financeira. Da desigualdade sublinhada pelos slo- gansrebeldespintados nosmuros de instituições públicas.
Essasobservaçõesfacilitampercebero êxitodas músicas como “Não existe amor em SP”. A composição do artista paulistaCriolo, premiadae elogiadapor muitoscríticos, ex
plica a situação em todoopaís. O autor não toca no assunto doamorromântico, antes retrataa falta de cidadania,indi ferença em relação aos outros.
A minha perspetivaé, comcerteza, limitada.Mas, mes
mo assim, poderia falar de muitas outras coisas, outros aspetos dabrasilidade.Comecei com estupros, passei pela violência: chacinas, massacres, pela pobreza, autoestima baixae chegueià desigualdade. Pode parecerquesójuntei osassuntosexploradospelosmédia para acusar e condenar o Brasil. Mas: não.Não atacooBrasil, não souinimigo do Brasil. Pelo contrário, eugostaria devoltar lá nofuturo.
ComoMarcelProust disse:
Overdadeiroato dedescobrimento nãoconsiste em sair em busca de novas terras, mas sim aprender aver aterra que já nos é conhecida com novos olhos.
Por isso, vale a penavisitaroBrasil e vale apena pen
sar no Brasil. Nunca acrediteinosavisos que consideravam o Rio ou SãoPaulo as cidades diabólicas onde reinavam a violência e o estupro.Pessoalmente, sentimeseguro láe não sofri nenhumprejuízo. Contudo, nãose pode marginalizar ou aindacompletamente ignorar os problemas que estão enraizados naestrutura social e sãocadavezmaisóbvios.
Sãoos problemasque sepodemvencer. O que falta?Na minha opinião, o que os brasileiros procuram noseu diaa dia é oamor:amorde si mesmos e deoutros. Claro, oamor sozinho não resolve todos os problemas. Mas talvez um dia, osentimento, sendo acordado pouco a pouco,prevale ça, como nas telenovelas,e, comoTietame levouaoBrasil, o amor leva todaa gente a agir, a lutar por sua causa. A CopadoMundo e os Jogos Olímpicos podem afetar profun damente o país, mas não graças aosfeitos heroicosdos go vernadores. Pelo contrário, porcausadafaltade atividade construtiva e doabusodo poder pelos governantes opovo
pode decidir quejá basta. Chegou a hora de redescobrir o amor.
Na minha busca pessoal,encontrei no caminho deTieta oamor.Apaixoneime pelabrasilidade. Pelo conceito elusi- vo que duranteestaapresentaçãonuncadefini. Porque não sei definir.Sótenhoimpressão que a brasilidade tem algoa ver comoutraidade: humanidade. Então, apesar das con trariedades, sete meses noBrasil nãoforamotempoperdi do. Espero quedaperspetiva subjetivade vocês os últimos 20 minutostambém não tenham sido. Acabou a apresenta ção. Sóesperoqueoamor nãoacabe.
Referências bibliográficas:
http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitoshumanos/noti- cia/201402/prefeituradoriorecolhemoradoresderuaemacao- paracoibir
http://cmais.com.br/noticiasjornalismo/carnavalepalco- paracenasdeabusosexualnorio
http://globotv.globo.com/redeglobo/fantastico/v/pes- quisarevelaquemaioriaachaquemulherderoupacurtamere- ceseratacada/3249143/
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noti- cias/2011/12/111214_mapaviolencia_pai.shtml
http://www.bbc.com/sport/0/football/24709049 http://www.bbc.com/sport/0/football/25621466
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/
SIPS/140327_sips_violencia_mulheres.pdf
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/
upload/chamadas/censo_1338734359.pdf
http://www.sabado.pt/SpecialPages/Print.
aspx?printpath=/Arquivo/UltimaHora/Mundo/RiodeJaneir otemmaisdecincomilpessoasaviv&classname=Article.News
Bartosz Suchecki-estudante doterceiroanodeEstudos PortuguesesnaUniversidade Marie CurieSkłodowska em Lublin. Bolseiro do programa Erasmus na EscolaSuperior de Educação em Lisboa(2012) e intercambista na Universi dadeRegionaldoNoroestedoEstadodoRio Grandedo Sul emIjuí (2013).
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